Opinião

Achismos

11 jan 2022 15:45

Cada like é uma opinião de gosto, simplificada

Há quem ache que achar seja a arte de saber, estando na vida achando que se sabe alguma coisa. 

Vivemos numa época de opiniões, em que muitos acham que opinar vale o mesmo ou até mais do que fazer ou contribuir para que algo seja feito, e consequentemente passível de ser alvo de opinião. 

Parece que as redes sociais fazem de nós opinion makers, curadores de bolso ou colunistas de ocasião. Cada like é uma opinião de gosto, simplificada.

Cada partilha contém uma recomendação “curada”. Cada post é um testamento com a única finalidade de engagement empático. 

Acho que, de uma forma complacentemente redundante, se está a formar uma espécie de corrente de pensamento a que apelido de achismo.

O achismo é baseado não tanto numa qualquer produção de conhecimento mas na arte de achar e formular opinião com base em informações pouco fundamentadas ou, pior, escritas e publicadas para gerar o máximo de interações, sejam elas likes, comentários ou partilhas. 

Como o fim condiciona o princípio, isto é, como queremos que a comunicação tenha o máximo de impacto e interações, as mensagens informativas, nas redes sociais e nalguns meios de comunicação são de lógica fácil mas enganadora.

É querer um efeito satisfatório e rápido mas pouco nutritivo, como o açúcar. 

Duas das estratégias mais empregues são os sofismas ou whataboutisms que basicamente estão no cerne das fake news, da desinformação generalizada e que levam aos achismos.

Definem-se como: “argumento ou raciocínio concebido com o objectivo de produzir a ilusão da verdade, que, embora simule um acordo com as regras da lógica, apresenta, na realidade, uma estrutura interna inconsistente, incorreta e deliberadamente enganosa”. 

É a nossa prepotência que nos torna confiantes para debitar opiniões sobre, por exemplo, vacinação, educação ou cultura, sem ouvir especialistas.

Mas às vezes é melhor ouvir quem sabe do que achar sem saber.