Editorial

Dedo na ferida

4 jul 2024 08:05

Algo está a falhar nas urgências hospitalares e no Serviço Nacional de Saúde (SNS) em Portugal

A história chegou-nos, como chegam tantas outras, em forma de revolta e indignação. Um jovem adolescente, supostamente com uma crise de ansiedade, recorreu às urgências de um hospital da nossa região, ao final da tarde. Fez a triagem e ficou a aguardar na sala de espera, onde estavam pouco mais de meia dúzia de utentes.

Esperou e desesperou, até ouvir, finalmente, o seu nome no altifalante que o mandou entrar para ser observado por um médico. Voltou a esperar e a desesperar. Sem jantar, e depois de muitas mensagens trocadas com o pai, que aguardava no exterior, decidiu abandonar o hospital, sem sequer ser consultado, já passava das três da madrugada. No dia seguinte, a opção foi recorrer a um médico no sector privado.

Se a demora no atendimento esteve relacionada com o grau de urgência da situação ou com a falta de profissionais de saúde, este pai nunca o saberá. Mas é mais um a reclamar das horas de espera intermináveis nos serviços de urgência de um hospital. E, independentemente de ter ou não razão, é um facto que algo está a falhar nas urgências hospitalares e no Serviço Nacional de Saúde (SNS) em Portugal.

Na entrevista concedida esta semana ao JORNAL DE LEIRIA, o cardiologista João Morais coloca o dedo na ferida. Sem bálsamos nem analgésicos. “Há um problema de organização no SNS. As pessoas estão muito cansadas de trabalhar num sistema desorganizado. Temos um sistema arcaico. Funcionou há 40 anos, mas agora não”, afirma o especialista recém-aposentado, após quatro décadas ao serviço do SNS.

O novo Governo apresentou recentemente um Plano de Emergência para a Saúde que prevê, entre outras medidas, a reestruturação dos serviços de urgência e o reforço dos cuidados de saúde primários, com a criação de centros de atendimento clínico para situações de menor gravidade. Resta saber se haverá médicos para preencher as vagas nestas novas unidades, quando continua por estancar a ‘sangria’ de clínicos para o sector privado.