Opinião
Desporto de formação ou de deformação
Estou certo de que o “messismo” e o “ronaldismo” têm cada vez menos peso, com os pais a preocuparem-se, acima de tudo, com o bem-estar das crianças
No início desta minha colaboração com o Jornal de Leiria desejo a todos os leitores um 2024 repleto de sucessos pessoais e profissionais.
Irei aproveitar este espaço para dar a minha opinião sobre temas desportivos, mas não só.
Naturalmente o futebol irá merecer um espaço maior por ser a área profissional onde estou inserido e onde posso deixar algumas reflexões que considero mais prioritárias.
Sendo esta crónica o pontapé de saída da minha colaboração, nada melhor do que abordar o tema do desporto olhando essencialmente para a sua base, a formação, ou em muitos casos, infelizmente, podemos falar de deformação.
Quando temos uma sociedade sedenta de valores, onde professores e forças policiais estão a perder o peso educacional que devem ter na formação de todos nós, podia e devia o desporto ter um papel importantíssimo no futuro das novas gerações, mas infelizmente, deixamos que alguns oportunistas se aproveitem do desporto formação para criar riqueza.
Querem ser o que não são e criam ilusões nos pais que são levados a ter comportamentos vergonhosos que em nada ajudam na formação dos seus filhos e dos filhos dos outros.
Quero acreditar que esta é uma pequena percentagem de formadores e pais que, cada vez mais, ficam mais sozinhos num desporto onde cada dia se tem de valorizar mais as boas atitudes.
Estou certo de que o “messismo” e o “ronaldismo” têm cada vez menos peso, com os pais a preocuparem-se, acima de tudo, com o bem-estar das crianças.
Para os clubes e/ou empresários que teimam em aproveitar-se do direito da constituição que é a prática desportiva, é esperar que surjam governantes que olhem para o desporto como ele merece.
A propósito de políticas desportivas, ano após ano temos assistido a mais do mesmo.
Os vários partidos governam, mas continuam a olhar para o desporto e para as suas leis e regulamentos apenas a pensar no topo da pirâmide.
Basta ler os manifestos dos vários partidos nas eleições, sejam elas nacionais ou locais, onde raramente são dedicadas linhas orientadoras do desporto de formação que, recorde-se, move milhares e milhares de crianças e jovens.
Os apoios que os municípios dão aos clubes/ associações devem ser cada vez mais justos e incentivadores.
Não faz sentido que os apoios financeiros sejam feitos pelo número de atletas inscritos.
O apoio deve ser dado por atleta do município, promovendo a participação e prática local ao contrário do que muitas vezes acontece.
Ou seja, a criação de equipas elitistas onde ficam os melhores atletas dos municípios vizinhos, contribuindo para o esvaziamento de muitas equipas locais e, em alguns casos, levando ao seu desaparecimento.
Este é apenas um dos vários exemplos que posso apontar.
É exigível em todas as situações que os dinheiros públicos sejam bem cuidados, mas ainda ganha uma maior importância quando falamos da prática desportiva direcionada para os mais jovens.
Artigo escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990