Opinião
Desejos de Ano Novo
Impressões, Clara Leão
Chegados que estamos a um Novo Ano, acabados de sair de pelo menos 15 dias de intensa troca de votos de Boas Festas, não nos faltaram frases feitas com brilhantes, frases feitas sem brilhantes, frases e imagens originais, fotografias a metro alusivas à quadra, tic-toks, emojis, gifs, animações, pequenos filmes, e até mesmo anúncios, portadores desses votos bons que gostamos, precisamos, de fazer chegar a parentes e amigos.
Entre os mais próximos, e de viva voz, multiplicaram-se os desejos e as promessas entre beijos e abraços, e em privado tomaram-se silenciosamente grandes ou pequenas decisões, e viveu-se a repetida sensação de que algo pode realmente começar de novo em mais um ano que começa.
Ficámos muito satisfeitos e alegres e, durante um tempo, as cores ficaram mais claras e o ar mais leve, mesmo estando de chuva.
No dia 2, recomeçámos o quotidiano com o ânimo e o ímpeto das coisas novas, facilitado por uma semana um tudo-nada mais curta, pelos relatos da festa, por mais alguns beijos e abraços que terão ficado por dar, e estreámos a escrita do 2024 que até então era apenas uma projecção do futuro; a seguir virá o fim-de-semana e com ele o Dia de Reis, o Bolo deles, e o desmontar dos enfeites de Natal.
E pronto.
Na segunda-feira a vida deve recomeçar a ser exactamente a mesma que sempre foi, salvando-se, talvez, uma ou outra promessa ou decisão que resistam à rotina dos dias; em breve, provavelmente tudo, ou quase tudo, estará como dantes.
Não é nada de novo, não é nada de grave, é apenas este ser-se humano, cheio de boas intenções, boas vontades e desejos de mudança, mas com pouca eficácia no fazer frente, a sério, ao hábito, ao costume, à famosa zona de conforto e, sobretudo, ao par terrível que é o comodismo de braço dado ao egoísmo.
Mea culpa.
Façamos então diferente, desta vez.
Elejamos uma intenção particular, uma daquelas que só a nós pertence e há muito tempo nos faz companhia por nunca ter sido posta em prática, e tornemo-la, antes de mais um ano voltar a terminar, numa secreta e gloriosa revolução num nosso particular modo de ser, ou de fazer.
Mas elejamos também uma intenção colectiva (temos por onde escolher), com o firme propósito de activamente lhe transportarmos a bandeira através do pensamento, das palavras e das acções, e da chamada de atenção pública.
Sugiro uma que me toca especialmente: cuidar, respeitar e ouvir os mais velhos e mostrar aos mais novos o papel importante, e único, que eles podem ter, se incluídos na nossa vida.
É crescente o número de idosos abandonados nos hospitais, especialmente na altura do Natal, aumenta o número de idosos que nunca, ou raramente, são visitados nos lares, são cada vez mais os mais velhos descartados da vida de filhos e netos.
É demasiado triste, é cruel, é desumano.
E é absolutamente estúpido, porque eles são preciosos contentores de sabedorias, de história, de afectos, de Tempo, de tranquilidade, de disponibilidade, e das nossas raízes, pessoais ou colectivas.
Se vivermos com eles de muito perto, ficaremos todos muitíssimo melhor!
Que possa ser mais assim, num Bom Ano de 2024!