Opinião

Doses moderadas

3 jan 2025 16:31

Tenho para mim que os excessos das festividades nos viciam de tal forma, que no resto do tempo já só queremos doses colossais de… tudo!

O período de festividades em que estamos é propício a excessos. No Natal, mesmo sendo o prato tradicional um frugal peixe cozido, toda a parafernália de entradas, petiscos, e doces à disposição deixa os diabetes aos saltos e o colesterol a bater palmas! Nada que impeça um cidadão português de prosseguir nessa tarefa de acabar com os restos - até porque há comida feita para o triplo dos convidados: nunca se sabe se não aparecem mais vinte pessoas sem avisar!

Já no réveillon são mais comuns os excessos de álcool. Festas com bebidas à discrição, jantares de amigos bem regados, brindes ao Ano Novo, mais um copinho para empurrar as passas… penso que todas as tradições da passagem de ano tem a companhia íntima de bebidas alcoólicas. Isso poderá ser explicado pelo enfartamento de tanta comida no Natal… ou do enfartamento de tanta convivência familiar que exige uma desinfeção e uma celebração!

Tenho para mim que os excessos das festividades nos viciam de tal forma, que no resto do tempo já só queremos doses colossais de… tudo! Vejamos este ano de 2025, que também terá excessos, e alguns são previsíveis.

Ainda antes do tempo quente, começaremos a ver a obra produzida pelo senhor excessivo, Donald Trump. A 20 de Janeiro, Trump toma posse e começará a implementar as suas visões (dizer “ideias” talvez seja um pouco hiperbólico) e é certo que trará consequências grandes para todo o Mundo.

Acabarão guerras? A que custo acabarão? Existirão novos conflitos? Poderão atuais aliados ficar de costas voltadas? Excessivo será, também, o ano nas notícias. Com eleições autárquicas no final do ano, e presenciais logo no início de 2026, vamos ter campanha eleitoral todo o ano. Preparemo-nos para uma avalanche de comentadores nas TV a discutir vacuidades, percepções, táticas, e cenários. Cada qual na sua trincheira, para falar aos seus simpatizantes e apelar à emoção.

Estão, portanto, os políticos dispensados de fazer obra, ou apresentar ideias e projetos: nestes tempos excessivos, basta aparecer e parecer. E depois, lá para o final do ano, voltamos aos excessos gastronómicos e alcoólicos que as festividades nos proporcionam, que nos preparam para enfrentar o ano seguinte.

Nesta vertigem de excessos sucessivos, quero doses moderadas. Doses moderadas de loucura, de vacuidade, de propaganda, de fascismo. E reparem, não é discurso de Miss Universo - já dou por adquirido tudo isto. Mas se pudesse ser só um pouquinho de cada, e não uma quantidade alarve, como as nossas ceias de Natal… 

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990