Opinião
Qual é a pressa?
Os debates entre os líderes dos partidos são um arremedo de discussão, sem permitir compreender em profundidade nenhuma posição ou proposta dos partidos
Nas últimas semanas tenho pensado amiúde na expressão que António José Seguro repetiu em Janeiro de 2013 a propósito de um possível congresso do partido que dirigia. A estupefação que Seguro exprimia é a que eu sinto ao perceber que o futuro do País é discutido meia hora de cada vez, repetidos à exaustão.
Os debates sucedem-se, mano-a-mano, e com intervenções com a densidade de um tweet. Os idealizadores do modelo manifestam satisfação porque afinal tem havido muitas pessoas a acompanhar os debates, em alguns casos, mais de um milhão de portugueses.
Mas, será que o interesse que os debates têm despertado sinaliza um interesse genuíno pela política e pelas propostas dos partidos? Após os debates mais pessoas decidiram ou mudaram a sua intenção de voto? Parece-me que não, a julgar pelas sondagens que pouco têm variado. Serão os portugueses incapazes de ouvir um debate mais longo? Seria impossível ter debates de uma hora, por exemplo?
Dir-me-ão que atualmente as pessoas têm pouca paciência para ouvir alguém falar durante uma hora. E que seria muito tempo das televisões dedicado aos debates. Discordo, também, já que antes e depois dos debates, os diferentes canais têm comentadores (a falar!) antevendo e perorando sobre os debates – durante mais tempo do que dura o próprio debate.
Ou seja, parece haver paciência para ouvir pessoas a falar – mas esse privilégio é reservado aos comentadores e não aos políticos. Então, o que explica a escolha pelo modelo 30 (debates) vezes 30 (minutos)? Simplesmente, este é um modelo que permite criar conteúdo. As televisões – incluindo os canais de notícias – desistiram de informar e tornaram-se em canais de entretenimento. E, portanto, precisam de despertar nos espetadores sentimentos em vez de pensamentos. Trincheiras em vez de nuances. Vencedores e derrotados. Premiar “quem esta a dar canal” e não quem quer mostrar as suas propostas.
Para isso, nada melhor que apenas permitir tiradas curtas, confrontos, conflitos, sem profundidade, sem tempo. Como cereja no topo do bolo, nada melhor do que, usando o modelo dos comentadeiros da bola, constatar que o debate teve pouco conteúdo, sem propostas, mas X falou mais alto do que Y portanto ganhou.
Os debates entre os líderes dos partidos são um arremedo de discussão, sem permitir compreender em profundidade nenhuma posição ou proposta dos partidos. O objetivo não é saber quem melhor pode governar o País, nem quem tem melhores propostas: é saber quem vai ser expulso do Big Brother esta semana.