Opinião
É a Economia Verde, estúpido!
Com tanto telhado e área urbana ainda por cobrir, porque raio é que a estratégia governamental está a passar por autorizar abates de árvores
O Governo anunciou este ano a autorização de abate de 1821 sobreiros para a construção do Parque Eólico de Morgavel, e de outros 2243 para a construção da Central solar de Mato do Conde em 2022 - ambos os projetos de “imprescindível utilidade pública”, segundo o Ministro do Ambiente.
Infelizmente, nos estudos de impacte ambiental não é contemplado o cálculo da quantidade de CO2 capturada pelas árvores em questão (vocês lembram-se de cada uma! porque é que os especialistas haviam de pensar nessas coisas?). Na ponta da língua há sempre prontas desculpas de que as árvores são jovens e algumas até estão doentes (há sempre árvores doentes!), e de que numa área bem maior vão ser plantadas muitas mil (até ao dia…)!
Os planos de compensação e acompanhamento ambiental prometidos nos jornais estão sempre omitidos contratualmente - que azar! Mas tudo bem! Isto é gente de boa fé! Um montado bem gerido pode capturar 14,7 toneladas de CO2/ hectare/ano, e tem funções de regulação ecológica de grande importância. O que é que precisamos de manter fora da atmosfera para combater as alterações climáticas? Acertaram: CO2. Como dizia o outro, façam as contas…
O uso de terrenos que deveriam ser (eram!) florestais para parques solares e outras soluções renováveis é a nova fronteira do aproveitamento da chamada Economia Verde, e mostra bem o resultado de décadas de descaso na gestão florestal do País, bem como a ausência de quantificação dos serviços ecossistémicos que as florestas prestam.
Com tanto telhado e área urbana ainda por cobrir, porque raio é que a estratégia governamental está a passar por autorizar abates de árvores em vez de incentivos (não migalhas do Fundo Ambiental) à colocação de painéis solares em cada casa e prédio? Bem sei que para “o mercado” não é tão divertido (leia-se lucrativo) prescindir de lucros em favor do bem comum, que nem sempre se traduz em dinheiro.
Ainda tínhamos que nacionalizar o sector energético por falta de lucros - que desgraça! Enfim, só mais uma prova de como a economia neoliberal sempre arruína uma boa hipótese de políticas públicas de valor para as pessoas e a sociedade, em favor do enriquecimento escandaloso de alguns accionistas.