Opinião
Guerras tecnológicas
A região terá de navegar cuidadosamente neste ambiente complexo, procurando oportunidades de inovação e parcerias estratégicas
Ocenário global de guerras tecnológicas entre os Estados Unidos e a China, que começou no mandato de Donald Trump e continuou com Joe Biden, não só está a moldar as relações internacionais, mas também a reconfigurar as cadeias de abastecimento em todo o mundo. Estima-se que a eliminação do comércio de alta tecnologia entre estes dois blocos rivais pode custar anualmente cerca de 1,2% do PIB global, o equivalente a aproximadamente um bilião de dólares.
O controlo sobre as tecnologias de informação (chips, LLMs, etc.) e energia (painéis solares, baterias) é hoje uma questão crucial, com impacto direto na infraestrutura mundial de processamento de dados e a transição para tecnologias verdes. Os EUA têm implementado políticas agressivas para impulsionar a produção interna de semicondutores e tecnologias verdes, como evidenciado pelos 6,6 mil milhões de dólares em subsídios para a construção de fábricas de chips da TSMC no Arizona (com resultados, desanimadores em termos de eficiência) e pelos incentivos fiscais para a produção de tecnologia verde.
Por outro lado, a China lidera no fabrico de painéis solares e baterias (e agora carros elétricos), e a luta pelo domínio tecnológico estende-se agora à produção de chips menos avançados, que ainda desempenham um papel crucial em diversas tecnologias emergentes e de consumo em massa.
A legislação recente dos EUA reflete uma estratégia para bloquear muitos produtos chineses, enquanto impulsiona a descarbonização americana. Este cenário tecnológico global tem implicações diretas para a região de Leiria. As empresas locais que dependem de tecnologias avançadas, seja na produção ou na utilização de energias renováveis, podem enfrentar desafios significativos devido a mudanças nas cadeias de abastecimento e nas políticas comerciais internacionais.
Nestas páginas, já referi que apesar do protecionismo ser quase sempre o caminho errado, ele poderia ser uma oportunidade para Portugal, como substituto da China e ponte mais próxima entre a Europa e os EUA. Mas o país (ou mesmo a Europa) não tem capacidade para substituir a China em alguns domínios de alto valor acrescentado, pelo que as implicações são, para já, potencialmente negativas (a nível da transição verde).
A capacidade de adaptação a um cenário de restrições comerciais e de investimento em tecnologia nativa será crucial para a sustentabilidade e o crescimento futuro das empresas locais e europeias, mas o protecionismo e o lobby têm atrasado investimentos e a capacidade de inovação (em Portugal e na UE).
A região terá de navegar cuidadosamente neste ambiente complexo, procurando oportunidades de inovação e parcerias estratégicas que possam mitigar os impactos destes desafios globais, garantindo assim um futuro próspero e sustentável para a sua economia local.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990