Editorial
Imprensa em crise, democracia em risco
Em quebra acentuada há vários anos, quer em número de exemplares vendidos quer no investimento publicitário, a imprensa tem vivido tempos angustiantes, com os títulos que ainda conseguem manter as portas abertas a serem obrigados a reduzir as suas redacções e, como é óbvio, a perderem qualidade jornalística.
As causas são sobejamente conhecidas, com a concorrência da informação que abunda na internet a surgir como grande aliada dos reduzidos hábitos de leitura dos portugueses, agravando um cenário que nunca foi luminoso no nosso País.
Como é natural, com menos leitores o seu atractivo comercial para os anunciantes reduziu-se, preferindo estes, agora, outros meios, num mercado cada vez mais concorrencial e com mais oferta.
A verdade é que os suportes para colocar publicidade são, actualmente, infinitos, estando presentes no nosso dia-a-dia em qualquer lado para onde olhemos, isto num tempo onde os grandes grupos de comércio têm levado ao encerramento de inúmeros estabelecimentos de menor dimensão, fazendo reduzir o número de potenciais anunciantes.
Qual tempestade perfeita, tudo parece ter-se conjugado para o avolumar das dificuldades com que a imprensa escrita se debate, problema que, apesar de estarmos a falar de empresas privadas, a todos diz respeito ou não estivesse em causa o direito à informação contemplado na nossa Constituição.
Mais alarmante, é esta crise profunda por que passa a imprensa acontecer num tempo onde a desinformação é cada vez maior, com a internet a possibilitar que qualquer pessoa, sem filtro algum e com interesses menos ou mais obscuros, consiga amplificar as suas opiniões e dar conta de factos que, não raras vezes, não passam de pura ficção.
Vivemos, portanto, sob um manto de mentiras e de meias verdades que, com a ajuda do todo poderoso algoritmo, têm conseguido influenciar e manipular milhões e milhões de pessoas com as consequências que todos conhecemos, de que o exemplo mais dramático terá sido o ‘golpe’ de Trump para chegar ao poder.
Ou seja, se nada for feito, a imprensa continuará a definhar, com mais títulos a encerrarem ou a ‘venderem a alma’ a este ou àquele interesse, abrindo espaço para o crescimento da demagogia, do populismo e da mentira.
Não é, portanto, só a imprensa que está em risco, mas sim a própria democracia, razão pela qual o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, colocou este assunto na agenda.