Opinião
Lawrence: a arte é resistência
Com humor, empatia e melancolia, Hodgkinson retrata um artista genial e excêntrico, preso entre o idealismo criativo e a realidade
Num momento em que olhamos para o Mundo à nossa volta e percebemos que a maldade, a canalhice e a desumanidade estão a ganhar, temos de olhar para a arte como uma das poucas coisas que ainda nos poderá confortar e (talvez) salvar.
Terá um disco, um filme, um livro, um quadro, a força suficiente para isso? O dia em que deixarmos de acreditar que sim, é o dia em que perderemos definitivamente para os miseráveis que nos rodeiam por todos os lados.
Até lá, continuaremos a resistir. Que não tenham dúvidas!
E porque a resistência se faz, também, de partilha, aproveito estas linhas para vos contar que, há umas semanas, li aquela que é, provavelmente, a melhor biografia de um artista que alguma vez li. Palavras esdrúxulas, bem sei, mas totalmente acertadas.
O livro tem por título (em inglês, porque parece-me que ainda não está traduzido para português) “Street-Level Superstar: One Year With Lawrence” e foi escrito pelo jornalista musical britânico Will Hodgkinson.
Durante um ano, o autor acompanhou o dia-a-dia de Lawrence, o carismático mas quase esquecido líder dos inigualáveis Felt, mais tarde dos Denim e ainda hoje dos Mozart Estate.
Aos 61 anos, Lawrence continua a perseguir obstinadamente o sonho de alcançar o sucesso pop que, por diversas razões, sempre lhe escapou. Umas incontroláveis, outras provocadas por ele próprio, ou decorrentes de questões relacionadas com uma saúde mental fragilizada. Com humor, empatia e melancolia, Hodgkinson retrata um artista genial e excêntrico, preso entre o idealismo criativo e a realidade. Dura, muitas vezes.
Uma reflexão sobre o preço da integridade artística, a persistência perante o fracasso e a beleza (e loucura) de nunca desistir do próprio sonho. Sobre resistência e persistência. Um retrato de um homem que vive para a arte, mesmo quando o Mundo já parece ter-se esquecido do que isso é.
Citando Jarvis Cocker, vocalista dos Pulp, a propósito da obra: “É um livro que te fará rir e chorar. Lawrence é um monumento ao poder da música pop e encarna o melhor e o pior disso mesmo. Uma leitura essencial”.