Viva a Morcela de Arroz!

Pele a estalar, bem recheada de arroz, cortada em rodelas inteiras, especiarias q.b. e aquele aroma quente, confortável e familiar, que me transporta directamente para uma mesa de restaurante com toalha de papel branco no coração de Leiria, para uma tainada à antiga nas Cortes ou, claro está, para a cozinha da minha mãe.

É incrível o que uma simples morcela é capaz de fazer. Simples, mas das nossas, obviamente. Morcelas há muitas, mas de Leiria, só há uma e é um tesouro. Deveria, aliás, ser tratada como tal e dada a conhecer ao Mundo em todo o seu esplendor e sabor.

Seguramente que nestas páginas já muitas linhas foram dedicadas à Morcela de Arroz de Leiria e todas bastante mais eloquentes que estas que agora vos entrego, mas depois dos magníficos exemplares degustados nos últimos dias, fui assolado por uma dúvida que, não sendo nova, há muito não me assolava: por que carga de água é que eu em Barcelona não consigo comprar uma Morcela de Arroz de Leiria?

Consigo comprar tudo o que me vier à cabeça do repertório de enchidos e afins de Itália e França. Consigo comprar qualquer chouriço, morcela, salpicão, sobrasada, longaniza ou fuet dos mais recônditos cantos de Espanha, mas algo tão distinto, único e icónico como é a Morcela de Arroz de Leiria, népia, nicles, impossível.

E falo de Barcelona, mas recentemente fui ao Porto e nem vê-la. Comprei chouriço alentejano, farinheira minhota e alheiras de Trás-os-Montes, mas Morcela de Leiria, “isso não, não temos”. Não fosse uma encomenda da minha mãe, aliada a uma surpresa da família Carmona e não só o primeiro Cozido à Portuguesa feito pela Pilar teria ficado imensamente menos espectacular, como provavelmente não estaria hoje a escrever isto e alertar-vos para esta devastadora realidade.

Não sei quem é que tem a tutela destas coisas, mas, queridas e queridos leirienses, esta tristeza tem de acabar e protestar é preciso. Queremos a nossa Morcela em cada mercado, em cada talho, em cada mesa, de Leiria a Vladivostok e sempre, sempre, com a pele a estalar, bem recheada de arroz, cortada em rodelas inteiras, especiarias q.b e aquele aroma quente, confortável e familiar…