Opinião

Mais vida, menos redes

9 fev 2025 10:19

No Twitter, durante os últimos anos, só entrava, na verdade, para me chatear. Para me enervar. Um ninho de ódio e violência

Em meados de 2008 criei o meu primeiro perfil numa rede social. No Twitter. Era divertido, fresco e promissor. Um espaço de partilha. Não conhecia a maioria das pessoas que seguia e que me seguiam a mim e a interacção, pelo menos tendo em conta os padrões de hoje, era bastante básica. Ingénua, até.

Comentávamos ao momento o que estava a acontecer na televisão, fossem os telejornais ou um qualquer reality show, gozávamos com os comentadores da bola, metíamos uns links para canções e pouco mais.

Só em Abril de 2009 é que abri perfil no Facebook. Durante os primeiros tempos, limitei-me a replicar o que publicava no Twitter, até dar por mim a pensar que era uma estupidez. Ou encontrava uma forma de tentar ser relevante e original em ambas, ou mais valia dedicar o tempo apenas a uma.

O Facebook não demorou a ganhar a contenda e o Twitter foi ficando para um plano tão secundário que acabei por passar a ser apenas um espectador. Com o decorrer dos anos, foi o Facebook a perder o lugar para o Instagram, mas já numa altura em que, pelo menos, consegui separar o papel dos dois e utilizar o primeiro muito pouco e o segundo quase exclusivamente como um diário em imagens.

No Twitter, durante os últimos anos, só entrava, na verdade, para me chatear. Para me enervar. Um ninho de ódio e violência. De desinformação e mentira. Uma latrina onde o ar há muito se havia tornado irrespirável, parafraseando os Mão Morta e de onde deveria ter saído no mesmo minuto em que entrou o repugnante personagem que agora o governa.

No dia 20 de Janeiro, tal como milhões de utilizadores, fui-me embora. De vez. E das outras duas também já deveria ter ido. Por uma questão de princípios, obviamente. O problema é que, ainda que possa parecer fácil, sair destas teias em que nos fomos voluntariamente enredando nos últimos quase 20 anos, não o é.

Mas há sempre alguma coisa que podemos fazer. Se não conseguimos sair, seja pelo que seja, podemos entrar lá menos e, de caminho, ler mais livros, comprar mais música, ir mais a concertos, ao teatro e ao cinema, pagar por jornalismo decente, apoiar quem repensa o mundo e o partilha no Substack… beber mais copos uns com os outros. Voltar a criar novas redes, mais físicas, menos virtuais. O que é que vos parece?