Opinião

Música | Ao ritmo de aldeias e montanhas

23 out 2021 19:55

Sentimos que este projeto (que tem muito mais de Leiria do que aquilo que se possa, à partida, imaginar) foi um processo contínuo de aprendizagem e de comunhão

Com uma ideia desenhada e trabalhada desde há quase um ano, desenvolveram-se, ao longo dos últimos três meses, dez etapas do mapas-natureza.

No centro de Portugal, procuraram-se paisagens em vez de paredes e pelos territórios de Sicó/Alvaiázere, Serra da Estrela, Serra da Lousã, Geopark Naturtejo, Vouga Caramulo, Serra do Açor, Serra de Aire e Candeeiros, Serra da Malcata, Vale do Côa e Serra da Gardunha foram desenhadas semanas de trabalho e fins de semana de apresentação e programação que romperam fronteiras e alargaram vizinhanças. Com a arte como mote e numa viagem de (re)descoberta do outro (com quem partilhamos o território e o património) sentimos que este projeto (que tem muito mais de Leiria do que aquilo que se possa, à partida, imaginar) foi um processo contínuo de aprendizagem e de comunhão e tenho a certeza que todos os envolvidos nesta demanda dificilmente esquecerão o verão de 2021.

Entre muitas outras parcerias improváveis, acompanhar as residências e assistir a apresentações únicas que reuniram a bateria de Ricardo Martins com o grupo de bombos de Alpedrinha, as canções dos Lavoisier com a Filarmónica da Bendada, a irreverência de Dada Garbeck com a Associação de Raiz de Trinta, a electrónica dos Bandua com a tradição de Idalina Gameiro ou a criatividade de Ana Bento com a Associação Recreativa e Cultural de Carvalhal de Vermilhas foi absolutamente inspirador e isto só para falar em alguns momentos musicais. A soma das partes e o resultado da partilha superaram todas as expectativas. Mais do que recordar paisagens deslumbrantes, comunidades generosas e momentos sublimes de co-criações, apresentações, conversas, caminhadas e actividades lúdicas, o mapas-natureza aproximou realmente comunidades e deixou um legado por onde passou e muita documentação para quem quiser realmente conhecer melhor o país e as gentes que o habitam.

Agora prepara-se a edição de um livro sobre estas viagens mas vale mesmo a pena passar em mapas-natureza.pt e perdermo-nos por alguns dos 40 mini-documentários pessoas-mapas filmados pela Casota Collective ou espreitar a Rostografia levada a cabo pela equipa do Café Central ou a galeria onde estão as fotos do Idalécio Francisco e os vídeo reports.

Desde o final de confinamento à abertura quase generalizada, o mapas-natureza passou o verão a cartografar as zonas de montanha do centro do país e quem o acompanhou volta com a certeza de que essa frase feita de que há um país dentro país peca por defeito. Há muitos, são irresistíveis e temos tanto mas tanto para aprender com eles.