Opinião
O que está em causa
A confiança política dos cidadãos nas instituições faz-se também do grau de correspondência entre o que é prometido e anunciado pelos discursos e os resultados concretos das políticas públicas
Surpreendentemente, menos de dois anos depois de o País ter ido a votos para umas eleições legislativas, voltamos a ser chamados às urnas para escolher o próximo Governo.
Em março, os portugueses serão chamados a pronunciarem-se sobre o balanço que fazem dos últimos anos de governação, bem como do Governo que querem a liderar o País.
Este balanço faz-se, mais do que com base nos discursos, considerando a realidade do País. A educação e a saúde são os dois exemplos mais paradigmáticos dessa avaliação, porque correspondem, quanto a mim, ao que de mais elementar e básico o Estado devia garantir e estava impedido de falhar. Infelizmente, não foi isso que sucedeu.
Na saúde, a contestação dos seus profissionais tem colocado em evidência os problemas estruturais do sector que resultam na falta de acesso que milhares de pessoas enfrentam a cuidados básicos. As muitas horas de espera nas urgências, que extravazam os tempos de espera definidos, são apenas a ponta do iceberg para a situação delicada do sector.
Já na educação, são aflitivos o silêncio e a inoperância face à triste realidade de milhares de alunos continuarem sem aulas desde o início do ano.
Números avançados recentemente mostram que há mais de 2 mil alunos que continuam sem ter tido uma única aula a alguma disciplina. A igualdade de oportunidades que deveria ser promovida pela escola está seriamente afetada e os últimos estudos internacionais mostram exatamente isso: sucessivas quedas nos resultados alcançados pelos alunos portugueses.
A confiança política dos cidadãos nas instituições faz-se também do grau de correspondência entre o que é prometido e anunciado pelos discursos e os resultados concretos das políticas públicas. E era difícil haver maior dissonância do que a que existe nestas duas áreas: prometeu-se muito e o Governo fracassou completamente.
O que está em causa nas eleições legislativas de março deste ano é precisamente isso. A manutenção do caminho que nos trouxe até aqui ou a inversão de rumo com novas políticas e protagonistas. O povo será soberano.
