Opinião
Ouvir (realmente) os agentes do turismo
A dinâmica da atividade turística deve ser reforçada através de modelos colaborativos de governação
Ocorreu na semana passada a 11.ª edição do Vê Portugal, promovida pela Entidade Regional de Turismo do Centro. Centrado no tema “O Turismo Interno na Estratégia Turismo 2035”, este evento procurou reafirmar a importância de pensar o turismo que, pela sua dialética, exige reflexão crítica e construção coletiva de soluções. No entanto, refletir e aferir visões estratégicas deve implicar um verdadeiro processo de auscultação alargada, que vá além das habituais intervenções institucionais.
Para que o futuro do setor seja desenhado com ambição e realismo, é essencial ouvir de forma efetiva todos os agentes: empresas, comunidades locais, academia e sociedade civil. Caso contrário, estes fóruns arriscam-se a marcar somente uma agenda e a transformarem-se em espaços de validação de ideias já conhecidas, perdendo a oportunidade de gerar contributos verdadeiramente transformadores para os desafios que se avizinham.
Infelizmente, alguns destes encontros estão a funcionar como palcos de reafirmação de diagnósticos já reconhecidos, em vez de proporcionarem momentos de verdadeira inovação estratégica. Persistem intervenções bem-intencionadas, mas que pouco acrescentam em termos de orientação transformadora.
Num momento em que Portugal se afirma como destino turístico consolidado a nível internacional, a estratégia para a próxima década deve ser mais ambiciosa: importa estabilizar a atratividade do país e garantir a sua sustentabilidade, evitando fenómenos de saturação, perda de autenticidade e consequente declínio — como já aconteceu com outros destinos que deixaram de ser tendência.
Portugal atingiu um patamar invejável em termos de reconhecimento e procura turística. O crescimento consistente da procura internacional e a emergência de novos mercados colocaram o país numa posição de destaque na Europa e no mundo. No entanto, o desafio atual não passa apenas por crescer, mas por saber consolidar. É essencial preservar a qualidade da experiência turística, gerir a pressão sobre os recursos e os territórios e promover a diferenciação da oferta. Isso exige mais do que campanhas de promoção ou reforço de infraestruturas: requer visão estratégica, inovação na gestão dos destinos e uma leitura territorialmente inteligente da procura turística, que distribua fluxos e valor de forma mais equilibrada.
A dinâmica da atividade turística deve ser reforçada através de modelos colaborativos de governação, que envolvam as comunidades locais na construção de experiências autênticas e distintivas. A qualificação dos recursos humanos, a digitalização da cadeia de valor, a inovação nos modelos de negócio e a capacidade de antecipar tendências de mobilidade e comportamento dos turistas são hoje fatores estruturantes para manter Portugal como destino desejado e competitivo. Urge passar das palavras ao “plano”…
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990