Opinião
Pragas florestais em áreas urbanas e periurbanas
O controlo de pragas e doenças assume especial relevo na gestão e manutenção do arvoredo urbano
Para se proceder ao planeamento e gestão do arvoredo urbano, é necessário conhecer o património existente e a sua composição. Este primeiro passo pode ser dado através da realização de inventários arbóreos nas cidades, os quais devem ser alvo de actualização periódica.
Desde 2021, com a publicação da Lei n.º 59/2021, de 18 de Agosto, que impõe que todos os municípios elaborem um inventário completo do património arbóreo urbano existente, do domínio público e privado municipal, os municípios devem dispor deste instrumento de gestão, bem como de um regulamento municipal de gestão do arvoredo em meio urbano.
Com base nestes instrumentos, a manutenção e gestão do arvoredo é feita ao longo de todo o ano, com diferentes tarefas, que vão desde a inventariação, podas, controlo de pragas e doenças.
O controlo de pragas e doenças assume especial relevo na gestão e manutenção do arvoredo urbano, pois a manutenção de árvores saudáveis, sem problemas biomecânicos, diminui o risco de rutura e de queda de árvores.
Por vezes, existem pragas que, não sendo realmente preocupantes ao nível de danos no lenho, provocam prejuízos ao nível da produção de fruto e da saúde pública e animal. É o caso da Processionária ou Lagarta do pinheiro, com o nome científico Thaumetophoea pityocampa.
A Processionária é um insecto desfolhador dos pinheiros e cedros, que para além dos danos e prejuízos causados na copa das árvores, pode originar graves problemas de saúde pública. As lagartas passam por 5 estádios de crescimento e a partir do 3º estádio possuem pelos urticantes que provocam alergias ao homem e animais domésticos. As reacções alérgicas, geralmente por contacto ou inalação, dão-se normalmente ao nível da pele, do globo ocular e do aparelho respiratório, podendo provocar enfraquecimento e vertigens e em situações extremas levar à morte.
Entre Janeiro e Maio, na sequência do seu ciclo de desenvolvimento, as processionárias abandonam os ninhos de inverno nos pinheiros, para se enterrarem no solo, descendo em fila como uma procissão (daí o seu nome) em direção ao solo para continuar o seu desenvolvimento.
É neste período que devemos estar mais atentos a um possível contacto de crianças e animais com esta praga, uma vez que o contacto com os pelos urticantes pode provocar necroses (morte dos tecidos), e no caso dos animais, nomeadamente cães, as situações mais severas acontecem quando as lagartas são mordidas ou ingeridas, levando à necrose dos tecidos da língua e da cavidade oral. Para prevenir essas situações, devem ser evitados os locais onde existam pinheiros com sintomas de descoloração das agulhas e ninhos tipo seda na copa, bem como não deixar os nossos animais passearem soltos e sem supervisão.
De referir que, mesmo sem entrar em contacto direto com as lagartas, podemos ser afectados com gravidade. A simples libertação dos pelos das lagartas e a sua dispersão pelo vento, nomeadamente quando saem dos ninhos e se alimentam dos gomos foliares na árvore, é quanto basta para entramos em contacto com eles e sofrermos os seus efeitos adversos.
Convém saber, que esta é uma praga comum dos espaços florestais, aparecendo sobretudo em pinheiros jovens de bordadura, e que não é de comunicação obrigatória à Protecção Civil, sendo sobretudo nas áreas urbanas e periurbanas em que por vezes ocorrem mais casos de contacto, quer por desconhecimento, quer por falta de intervenção dos proprietários dos espaços florestais afectados.
Para além disso, para agravar a situação, como o ciclo biológico desta praga depende das condições climáticas de cada ano, as fases mais problemáticas podem ser antecipadas e pode acontecer que a Processionária possa completar dois ciclos anuais, descendo dos ninhos antes do Inverno e no período referido anteriormente. Esta já é uma situação identificada na zona geográfica do centro litoral, entre Leiria e as Caldas da Rainha.
Recomenda-se portanto, redobrado cuidado e atenção nesta altura do ano, sobretudo em espaços públicos e na interface urbano-florestal, de modo a evitar o contacto indesejado com esta praga, que afecta os pinhais e que pode por em risco os nossos animais e crianças.