Opinião

Repensar a escola

22 fev 2018 00:00

Saramago dizia que os livros não têm hipótese alguma de competir no mundo dos jovens de hoje, face às dezenas, ou mesmo centenas, de focos de interesse que lhes são proporcionados pelas tecnologias.

José Saramago disse, um dia numa entrevista, que se tivesse nascido cinquenta anos mais tarde nunca teria sido laureado com o prémio Nobel da Literatura. Segundo ele, a razão devia-se ao facto de, na sua infância em casa do seu avô, nada haver além de livros, como passatempo.

Para uma criança interessada como ele, os livros eram o único foco de distração, naquele tempo, social e economicamente, pobre. Porventura inspirado em Ortega Y Gasset, Saramago disse, com modéstia, que foram, sobretudo, as circunstâncias a possibilitar a atribuição do Nobel.

Evidentemente, muito se deve ao seu brilhantismo e também aos protestos indignados de Mário Soares que, tantas vezes, reclamou a atribuição do prémio a um autor de Língua Portuguesa.

Saramago dizia que os livros não têm hipótese alguma de competir no mundo dos jovens de hoje, face às dezenas, ou mesmo centenas, de focos de interesse que lhes são proporcionados pelas tecnologias, retirando-lhes tempo e predisposição para estudar ou treinar um instrumento musical durante mais de uns escassos minutos seguidos por dia.

O próprio ensino escolar encontra-se, hoje, «empacotado» com a mesma embalagem de há décadas.

Isso não cativa as mentes despertas e, talvez por isso dispersas, dos jovens de hoje.

Há, por exemplo, uma obsessão sistémica pela matemática, quando começa a ser claro, para todos, que não faz sentido obrigar um estudante, sem especiais aptidões para essa disciplina, a prosseguir nela. Somar letras com números nada diz nem se afigura ter a mínima utilidade na vida dos que pretendem seguir “Humanidades”.

A Finlândia, mais uma vez, tomou a dianteira, em matéria de inovação educacional, ao abolir a tradicional divisão de conteúdos de matérias escolares.

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