Opinião
Roménia
Sabes aquilo que dizem das árvores, que morrem de pé? Se calhar é parecido com os comboios, devem morrer inteiros e sobre os carris; de pé.
Sabes o que mais me impressionou? A enorme quantidade de vagões de comboio abandonados em linhas secundárias, nas proximidades das pequenas estações por onde ia passando. Pareceu-me mesmo impressionante.
Olhava as carruagens, dezenas delas, de diversas cores, de diversas formas e modelos e funções, de diversos tempos; ordenadas em longas filas, como se pudessem ser usadas uma vez mais; como se alguém as tivesse deixado ali provisoriamente, com a expectativa de lhes dar utilidade no dia seguinte, na semana seguinte; mas os dias passam, as semanas passam.
E como tantas vezes acontece, o tempo passa e nada traz; apenas mais tempo. Impressionoume aquela visão de abandono, de decadência.
Olhava e perguntava-me: o que esperam que aconteça a todos estes vagões? Que desapareçam por si próprios, que se dissolvam no ar? Que morram devagar? Quanto tempo demora um comboio a morrer?
Sabes aquilo que dizem das árvores, que morrem de pé? Se calhar é parecido com os comboios, devem morrer inteiros e sobre os carris; de pé.
No fundo, talvez os estejam a deixar morrer com dignidade. Talvez fosse mais triste se os desmantelassem e reciclassem as peças, se fizessem panelas ou martelos com o metal.
Percebi que há uma certa dignidade em deixá-los assim: comboios que nunca mais irão marchar, sobre linhas férreas que nunca mais serão percorridas. Uma espécie de homenagem, não?
E desse modo, a memória da passagem de todas as pessoas que ocuparam aqueles comboios, os risos e os choros e
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