Opinião

Tempo novo

6 jan 2020 00:30

Espero que este seja o ano em que os momentos que se cristalizem valham o tempo que lhes é empregue.

No ano passado ofereceram-me um calendário, daqueles com folhas de passar para trás ou rasgar.

Num gesto maquinal passei para trás todos esses meses. Era um exercício de passar o tempo. Um tempo cheio.

A cada folha que me lembrava de virar cobria-me de vergonha por não ter deixado o mês começar no seu dia certo. O primeiro.

A cada semana que passava a correr lembrava de como o sábado ou o domingo iam compensar todo o tempo a tentar perceber a que dia se estava.

Era quarta. Nessa certeza de ter a sucessão das páginas a marcar o ritmo daquilo que gostaria que fosse uma pacífica existência, cheguei ao final do ano a desejar que o novo durasse mais tempo.

Para o início de cada ano costumo definir uma palavra ou um conceito, que quero desenvolver em termos pessoais e profissionais.

Este ano vou dedicar-me ao tempo. Ao tempo de estar contigo.

De estar comigo e de estarmos juntos.

Dar o tempo para que as coisas se desenvolvam sem a veloz pressão de quem quer que esteja acabado antes de começar.

Por isso, e enquanto mensagem de bom ano novo a que esta altura se propicia, desejo que o tempo faça o ano parecer mais longo, e que haja tempo para o aproveitar.

É uma mensagem que dirijo a quem me lê, e a quem vai partilhando o que sente nestas colunas que vou escrevendo.

Fazer valer o tempo para que as coisas valham a pena, e que não se esgotem na efemeridade fácil que o tempo permite.

De nada vale a paisagem vista do comboio, que passa sem o olho se reter nos pormenores que interessam.

De nada falam os segundos/minutos/horas usados a esperar que o tempo passe .

Pouco diz a foto que todos tiraram, e que todos viram.

O momento consegue parar o tempo, seja numa foto, num poema ou numa coluna de jornal.

Espero que este seja o ano em que os momentos que se cristalizem valham o tempo que lhes é empregue.