Opinião
Tempo novo
Espero que este seja o ano em que os momentos que se cristalizem valham o tempo que lhes é empregue.
No ano passado ofereceram-me um calendário, daqueles com folhas de passar para trás ou rasgar.
Num gesto maquinal passei para trás todos esses meses. Era um exercício de passar o tempo. Um tempo cheio.
A cada folha que me lembrava de virar cobria-me de vergonha por não ter deixado o mês começar no seu dia certo. O primeiro.
A cada semana que passava a correr lembrava de como o sábado ou o domingo iam compensar todo o tempo a tentar perceber a que dia se estava.
Era quarta. Nessa certeza de ter a sucessão das páginas a marcar o ritmo daquilo que gostaria que fosse uma pacífica existência, cheguei ao final do ano a desejar que o novo durasse mais tempo.
Para o início de cada ano costumo definir uma palavra ou um conceito, que quero desenvolver em termos pessoais e profissionais.
Este ano vou dedicar-me ao tempo. Ao tempo de estar contigo.
De estar comigo e de estarmos juntos.
Dar o tempo para que as coisas se desenvolvam sem a veloz pressão de quem quer que esteja acabado antes de começar.
Por isso, e enquanto mensagem de bom ano novo a que esta altura se propicia, desejo que o tempo faça o ano parecer mais longo, e que haja tempo para o aproveitar.
É uma mensagem que dirijo a quem me lê, e a quem vai partilhando o que sente nestas colunas que vou escrevendo.
Fazer valer o tempo para que as coisas valham a pena, e que não se esgotem na efemeridade fácil que o tempo permite.
De nada vale a paisagem vista do comboio, que passa sem o olho se reter nos pormenores que interessam.
De nada falam os segundos/minutos/horas usados a esperar que o tempo passe .
Pouco diz a foto que todos tiraram, e que todos viram.
O momento consegue parar o tempo, seja numa foto, num poema ou numa coluna de jornal.
Espero que este seja o ano em que os momentos que se cristalizem valham o tempo que lhes é empregue.