Editorial
Uns mais em casa do que outros
Ao menos chovesse, que o martírio não seria tão grande e água é coisa que dá sempre jeito num País frequentemente em seca!
O estado de emergência provocado pelo Covid-19 é, sem dúvida, um teste às capacidades de resiliência, perseverança e de auto-controlo das pessoas.
Dias e dias trancado em casa, muitas vezes em pequenos apartamentos com vários moradores, não é, de todo, a situação mais agradável para ninguém, muito menos com o sol a teimar em desafiar as pessoas a saírem para o abraçar.
Ao menos chovesse, que o martírio não seria tão grande e água é coisa que dá sempre jeito num País frequentemente em seca!
Mas não. Não chove nem se prevê que o vírus deixe de nos apoquentar tão cedo, parecendo certo que a semi-quarentena que vivemos se arrastará, no mínimo, mais algumas semanas.
É desagradável, mas não é nada de muito grave, apesar de tudo, principalmente se relativizarmos a situação e pensarmos nos que estão hospitalizados e no quanto tudo seria pior se estivéssemos no início do século passado, quando não havia serviços médicos como os de hoje e o conhecimento era reduzido.
Agora, pelo menos, sabemos o que devemos e podemos fazer para minimizar a situação, estando muito do segredo deste combate na responsabilidade individual e na resposta de cada um de nós.
No entanto, se a maioria parece estar consciente disso e a cumprir o que tem sido determinado pelas autoridades responsáveis, não deixa de haver quem aproveite o momento para se revelar em todo o seu egoísmo, negligência e falta de respeito pelos outros.
E assim, apesar da situação dramática, os últimos dias continuaram-nos a mostrar filas de carros em direcção às praias, magotes de pessoas nas marginais, algumas esplanadas cheias e aglomerados em vários espaços públicos, como se pôde observar no percurso Polis em Leiria, aonde as pessoas acorreram como se nada se passasse, obrigando a Câmara a vedar o acesso ao espaço.
Se as pessoas não têm receio do que lhes possa acontecer, que tenham, ao menos, respeito por todos aqueles que gostariam de estar resguardados em casa, mas que são obrigados a trabalhar para assegurar os serviços e bens essenciais, desde logo com os médicos e enfermeiros, verdadeiros heróis, à cabeça.
Em poucos meses, Ana Gonçalves é a segunda vereadora, depois de Pedro Brilhante, a quem Diogo Mateus, presidente da Câmara de Pombal, retira todos os pelouros sem qualquer explicação pública.
No mínimo, é estranho o que está a acontecer em Pombal.
Por um lado, Ana Gonçalves é uma velha conhecida de Diogo Mateus, sendo vereadora desde os tempos de Narciso Mota, não se podendo dizer que o presidente se tivesse equivocado com a sua escolha nas últimas eleições.
Por outro, a falta de justificação pública para estas decisões não deixam de ser algo desrespeitoso para os eleitores que votaram no PSD e na equipa que se apresentou às urnas, da qual faziam parte Pedro Brilhante e Ana Gonçalves.
Por último, dá ainda que pensar que esta decisão de Diogo Mateus tenha surgido nesta altura, em que todas as atenções estão concentradas no Covid-19, podendo-se questionar o momento e as razões do mesmo.
Se por um lado, pedir-se-ia agora estabilidade e foco, por outro não haveria melhor altura para evitar o falatório...