Opinião
Verde pino na terra queimada
A aceleração para novos e melhores eventos mantém-se, mas uma efectiva reflorestação da mata parece cada vez mais distante
O nosso espírito, geralmente recalcitrante, dúbio, e temperado por uma estranha melancolia, consegue facilmente complicar as coisas. Face às inúmeras campanhas de apoio à verdura e a uma visão ecológica mais criteriosa (não falo aqui, naturalmente, da ecologia como projecto filosófico), vemos ultimamente ser valorizado o parque automóvel da cidade.
Desta vez calhou-nos Petróleo e Circo, com a realização de corridas de automóveis e o chamado “Rallye Verde Pino”, verdadeiro clássico do desporto automóvel na Marinha Grande.
Alguns cidadãos mais atentos perguntam o que verdadeiramente tem de “verde” este certame? Onde há carros a consumir mais de 50 litros aos 100 kms de petróleo destilado por entre pinho queimado.
Seis anos é pouco tempo para um pinheiro, mas parece que muitos concidadãos não irão viver para ver a mata de novo preenchida. E a velocidade furiosa a que assistimos este fim-de-semana não se compadece com a paisagem desmoralizadora que temos para lá da beira da estrada.
A aceleração para novos e melhores eventos mantém-se, mas uma efectiva reflorestação da mata parece cada vez mais distante. O sequestro de carbono validado pela existência dos pinheiros poderia porventura autorizar outros momentos automobilísticos na região, mas este apagamento da fileira do pinho levanta-me enormes dúvidas relativamente à coerência da eco-narrativa vigente.
A enchente de ciclovias e passadiços é fraco consolo para quem verdadeiramente pensa em ecologia política e em novas soluções para um crítico problema.
Conforme ouvi, nas longas horas de antena onde gastei a minha semana de trabalho a assistir (ao longe) a outra batalha, nesta fase “resta-nos ser realistas, e esperar um milagre”.