Opinião
A Caminho de Paris
O Euro visto por dentro por Nuno Bon de Sousa
Nuno Bon de Sousa é um dos intérpretes portugueses da UEFA, que fará a ligação entre os jornalistas estrangeiros e os jogadores portugueses nas várias comunicações e conferências de imprensa. Ao longo do Euro 2016 e enquanto a participação portuguesa durar, será também o "agente infiltrado" do JORNAL DE LEIRIA, escrevendo crónicas periódicas para as edições online e em papel. Esta é a sua primeira missiva, a poucas horas do jogo entre Portugal e Islândia.
Chegou o dia de partir para Paris. Voo a horas indignas, uma hora de autocarro e mais meia de metro até chegar à sede da UEFA, para passar mais meia hora na acreditação e poder, finalmente, chegar ao “trabalho”.
A primeira coisa que salta à vista é a forma como todo o país se mobilizou para ajudar a colocar em prática este torneio de proporções gigantescas. O aeroporto de Beauvais, a uma hora de autocarro de Paris, tradicionalmente utilizado para voos de baixo custo, tem agora com um fluxo de passageiros muito maior e recebeu estruturas de segurança e controlo de identidade. A organização dos autocarros está montada para se optimizarem todos os lugares de todos os veículos. Na cidade, as estações de metro estão equipadas com máquinas de venda de bilhetes com mais línguas e os funcionários são solícitos como nunca um francês o foi. Combatidas e ultrapassadas as greves e muitos protestos sociais dos últimos meses, a rede de transportes públicos de Paris revela fiabilidade e segurança. Uma paz total, no fundo. Na Porta de Versailles, onde fica a zona da UEFA na qual vou trabalhar, está tudo extremamente bem indicado. Há os controlos habituais de segurança, as revistas do costume e a presença, expectável, dos militares armados um pouco por todo o lado. Dentro dos edifícios, é tudo a uma escala digna de um Campeonato da Europa com 24 equipas (e não 16, como nas últimas edições). Há salões de exposições gigantescos com estruturas em pinho montadas para servir os efeitos desta prova apenas. Imagino que, no dia 11 de Julho, comecem a desmantelar tudo e haja um influxo tal de madeira no mercado, que o preço baixe. As primeiras impressões das instalações são curiosas. Se, por um lado, é bom ver a organização de perto e de poder ombrear com figuras da comunicação social internacional, já para não falar de estrelas do desporto rei (falarei disso noutras crónicas), reparo que as infraestruturas essenciais para sustentar quem vai acabar por estar a “viver” aqui dentro deixam muito a desejar. para garantir a alimentação e o sustento dos milhares de pessoas ligados à tradução, interpretação, televisão (de todos os países envolvidos), imprensa e quejandos há apenas um mísero bar e um restaurante. Ao contrário do que seria de esperar, já que estão a servir gente que tem poucas alternativas para comer, os preços são bastante inflacionados e não é fácil fazer uma refeição digna desse nome por menos de 20 euros, o que pode ser um rombo nas finanças se pensarmos que passamos aqui o dia e parte da noite.
Aproveitei este ensejo para abordar as questões mais logísticas e menos encantadoras deste Euro visto por dentro. A partir de agora haverá mais futebol, até porque, a partir desta terça-feira já é a doer.
Nuno Bon de Sousa, intérprete da UEFA, no Campeonato Europeu de Futebol 2016