Viver
A parentalidade dói (Ninjas e Princesas)
Sempre senti que estava destinada a grandes feitos, só que com 34 anos ainda não tinha conseguido perceber bem o quê...
Afinal, deve ser esta coisa de ser mãe (pelo menos nunca ninguém me tinha convidado para escrever para o jornal sobre mais nada!). Eu, que até passei aquela fase parva na adolescência em que achava que não queria ter filhos porque doía muito...
Quem ainda não tem filhos imagina que sim senhor, tudo muito bem, mas quem tem filhos sabe exactamente que a parentalidade dói. Ninguém está preparado para ter um filho, muito menos dois, três nem quero imaginar mas conheço casos!
Quando um casal amigo me diz que se sente preparado para ter um filho sorrio com tamanha ingenuidade e digo que sim com um misto de alegria e pena, porque também já passei por isso mas é sempre bom que mais alguém se junte ao clube.
A verdade é que decidir ser pai é um passo de gigante: deixar de ser apenas filho dói, estar grávida dói, o parto dói (quem vos disser o contrário é porque já se esqueceu), o medo de que qualquer coisa corra mal dói, até as anestesias que servem para não ter dores, doem!!
Mas depois quando vês o resultado de tanto “sofrimento” até te esqueces de que estás a ser cosida enquanto te derretes a olhar para um pequeno ser vivo que nasceu de nós e que vai revolucionar toda a nossa vida daí para a frente.
São horríveis os recém-nascidos, quase sempre, mas os nossos não, os nossos são lindos e ai de quem disser o contrário. O que ninguém nos avisa é que as dores só estão a começar.
Lamento informar que ouvir um bebé a chorar também dói, não conseguir perceber o que é que ele quer dói, a privação do sono dói, se eles ficam doentes, dói ainda mais. O que ninguém nos diz é que parece que essas dores são para a vida, ou até eles terem pelo menos 40 anos…
Quando temos um primeiro filho parece tudo muito difícil porque somos uns totós e estamos a improvisar. Mas a Natureza é uma força tramada, faz com que a malta se esqueça e é assim que a espécie humana se mantém, graças ao esquecimento.
Os segundos filhos servem para nos relembrar porque é que parecia tudo tão difícil da primeira vez. Mas o ser humano é, por natureza, arrogante e acha que agora já sabe tudo e vai ser muito mais fácil. Só que não. O primeiro filho ainda lá está, “agarrado à nossa perna”.
Quando pensávamos que fazer o jantar enquanto jogamos “4 em linha” com o mais velho era o cúmulo do multitasking, damos por nós a fazer o jantar enquanto jogamos ”4 em linha” com o mais velho e cantamos o “atirei o pau ao gato” a fazer caretas para a mais nova.
E dói… ainda dói… mas dá um gozo do caneco vê-los a crescer e a serem cada vez mais pessoas singulares e menos partes de nós.
Rita Gomes