Aldeia do Vale celebra comunidade em encontro de “nativos e familiares”

Há quem a considere a mais antiga ou uma das mais antigas povoações continuamente habitadas no concelho de Pombal. Na Aldeia do Vale, nos arredores da cidade de Pombal, nos anos 60, viviam 130 famílias ricas em filhos, porém a busca por uma vida melhor, iniciada em 1950, primeiro em Lisboa e, dez anos depois, em França e Alemanha, foi despovoando a aldeia. Hoje, sobram cerca de meia centena de habitantes, entre gente que se manteve firme e não abandonou aquele berço aninhado no regaço da Serra de Sicó, e novos moradores que resolveram criar um lar num cenário natural pouco tocado pelo mundo moderno.

No sábado, dia 6 de Agosto, a Aldeia do Vale voltará a encher-se de gente. Antigos habitantes, seus filhos, netos e bisnetos regressam às fragas que viram nascer os antepassados, para um convívio anual iniciado em 2019. “Nesse ano, aconteceu o primeiro encontro dos ‘nativos’ e aquilo correu tão bem, que ficámos de fazer a reunião todos os anos”, recorda Ernesto Silva, presidente da Associação de Amigos da Aldeia do Vale. Até então, muitos regressavam apenas no Verão e no Natal, para celebrar, a 26 de Dezembro, a Senhora do Amparo, pois a padroeira local, tem fama de milagreira, havendo relatos quinhentistas de peregrinações ao templo da aldeia.

Em 2020, a pandemia da Covid-19 impediu a concretização do encontro e ditou o seu adiamento. Este ano, porém, o espírito para ter tudo pronto para o segundo grande “Encontro dos Nativos e Familiares da Aldeia do Vale” só parou por algumas horas para evacuar a localidade, quando o grande fogo do dia 13 de Julho, ameaçou engolir ruas e campos. Passado o perigo, os voluntários voltaram às montagens.

“Nasci na Aldeia do Vale e emigrei para França. Quando voltei, ao fim de 40 anos, eu e outros como eu, começámos a organizar actividades para recuperar as tradições próprias da nossa aldeia, como as descamisadas, a apanha da azeitona ou a matança do porco. Em, 2016, criámos a associação”, recorda Ernesto Silva. O encontro para ‘nativos’ e famílias está aberto a todos os que pretendam participar, mesmo não-nativos, e conta com uma exposição de saberes tradicionais, uma Feira de Velharias e Artesanato, um almoço de convívio cuja ementa é carneiro estufado, prato tradicional da zona, jogos de antigamente e animação musical com concertinas e baile.

“Há documentos e vestígios que demonstram que a Aldeia do Vale é a mais antiga, continuamente habitada, no concelho de Pombal”, diz, com orgulho, o presidente da associação, adiantando que é com prazer que vê casais jovens escolherem a localidade para viver, embora lamente que os elevados preços das casas dificultem a fixação.