Sociedade

Almirante quer desenvolvimento estratégico em vez de improviso 

23 jul 2025 10:09

Silva Ribeiro deixa conselhos para o desenvolvimento estratégico de Pombal 

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Pedro Pimpão e Silva Ribeiro
Mafalda Viúla Monteiro

No primeiro Fórum de Desenvolvimento Local e Regional de Pombal, que se realizou na quinta-feira, no Teatro-cine de Pombal, o ex-Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, almirante Silva Ribeiro, elencou uma série de medidas no sentido de alavancar o progresso estratégico do município, num mundo em transformação.

Lembrando o destaque que a figura do marquês de Pombal tem na localidade, o militar, afirmou que “na realidade”, é o castelo que representa o “espírito inovador” do território, por estar ligado à visão de futuro dos Templários, que o construíram logo no início da nacionalidade.

Silva Ribeiro reforçou que, para falar de estratégia, é preciso falar da fortaleza medieval, “símbolo mais importante do desenvolvimento e do progresso estratégico” da região.

O também professor universitário, defendeu, pois, uma liderança que escuta, capaz de actuar no regime híbrido que é o mundo actual e advogou em prol da antecipação estratégica, complementada por uma participação comprometida com valores éticos.

De seguida, propôs a implementação de comunidades energéticas e hortas solitárias, como forma de enfrentar os desafios de sustentabilidade global.

Por fim, destacou a urgência em valorizar os centros de gravidade do território, investindo na resiliência colectiva de Pombal.  

Liderança num mundo em mudança

O militar, natural do concelho, assinalou ainda a necessidade de a autarquia “integrar soluções multidimensionais para responder a um mundo que já não é limiar nem previsível”.

Num contexto de aquecimento global, aceleração tecnológica e instabilidade internacional, fruto do regresso da guerra à Europa, urge a necessidade de uma liderança estratégica, empenhada no “reforço da resiliência dos territórios, da coesão social e da sustentabilidade do desenvolvimento”.

De um território que, analogamente a uma força militar, seja capaz de operar em regimes híbridos, nota o estratega militar.

Para tal, avança com a proposta de criação de um plano local de transição climática, com vista à descarbonização. Ademais, sugere o reforço da protecção civil e dos sistemas de resposta a crises.

E, ainda, a constituição de um Conselho Municipal de Resiliência Global, que agregue representantes da sociedade civil e especialistas, com o objectivo de monitorizar riscos globais com impactos locais.
Insistiu que a implementação de tais medidas implica uma liderança inteligente, que, além de “relacional, estratégica e inspiradora”, “tome decisões baseadas em evidência e não apenas na intuição ou na tradição”.
 
Antecipação estratégica e participação

Neste sentido, reflectiu acerca da possibilidade de ser criado um pequeno observatório estratégico que permita “testar ideias, avaliar políticas e apoiar decisões com base em cenários e tendências”.

Segundo o professor universitário, é preciso pensar no longo prazo, transpondo a lógica de antecipação estratégica para um nível local e regional, de maneira a “prevenir assimetrias, acelerar respostas e orientar investimentos com maior impacto”.

No entanto, imaginar o futuro de um território, edificado sob uma cultura partilhada, não é possível sem a participação de quem dele faz parte.

Nessa linha, Silva Ribeiro sugeriu a criação de uma rede de jovens predictores de Pombal, que integre alunos dos ensinos secundário e superior em projectos de imaginação do futuro do concelho.

Complementarmente, propôs a organização anual de um Fórum Futuro Pombal, com participação internacional.

Para orientar a acção pública, de forma “coerente e mensurável”, apontou para a elaboração de uma Carta de Valores e Compromissos, que permita contrariar a maneira nacional de resolver problemas, assente no “improviso como estado de espírito e no desenrascanço como atitude”.

Sustentabilidade do desenvolviment

Por fim, salientou a pertinência em assumir os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) como matriz orientadora da estratégia de Pombal, notando que “o desenvolvimento local e regional só tem pleno sentido se estiver alinhado com os desafios globais da humanidade”.

Todavia, “a sustentabilidade não se impõe por decreto”, o que dificulta a tradução desses objectivos globais em acções locais concretas.

Reconhecendo o desafio, o almirante propôs iniciativas “exequíveis e articuladas com a realidade territorial”: a elaboração de um relatório voluntário local sobre os ODS; o desenvolvimento de projectos-piloto sustentáveis, como comunidades energéticas ou hortas solidárias; e, a integração dos ODS nos currículos escolares.

Centros de gravidade

Silva Ribeiro concluiu o discurso com novo paralelismo à doutrina militar.

No combate contra uma força adversária, o ponto de partida para uma estratégia eficaz consiste em identificar o seu centro de gravidade, isto é, o “ponto de convergência onde se concentra a sua força e de onde emana a sua coesão”, para poder neutralizá-lo e, assim, desarticular todo o seu sistema.

Paralelamente, um território deve identificar os seus centros de gravidade, como o potencial industrial, a juventude escolarizada ou o tecido associativo activo.

Contudo, seguindo a lógica contrária, valorizá-los e neles concentrar os seus recursos, pois só assim se “constrói a coesão, se fortalece a democracia e se prepara a resiliência colectiva”, afirmou.

O almirante rematou declarando não haver lugar “para improvisações cíclicas ou diagnósticos sem acção”, devendo Pombal orgulhar os seus munícipes com um futuro que os mobiliza, que resulte de uma construção de todos e para todos.