Viver
André Nunes, actor: "Os actores são ricos sazonais e também são pobres sazonais"
"Fiz a quarta classe em Leiria e estudei na secundária Loureiro Botas, na Vieira. Vou mantendo contacto, mas tenho saudades da malta. Considero a zona 'a minha terra' Foi onde vivi a fase dourada da minha juventude"
Após um ano a aparecer em várias peças de teatro, na televisão, cinema e em webséries de humor, que desafios o esperam em 2017?
Várias coisas. Vou ter agora projectos de teatro e um de televisão. Tenho tido uma época boa porque tenho feito muitas coisas diferentes e, neste ano que agora começou, vou ter vários trabalhos interessantes em mãos. Uma delas é uma peça a partir do texto Leôncio e Lena, de Georg Büchner, que irei representar, com outros dois actores, em alguns fins-de-semana, no Algarve, e depois no Teatro do Bairro, em Lisboa, em Março. É um texto engraçado e extenso, entre o estilo shakesperiano e Monty Python. Será um bom desafio. Terei ainda outra peça que estive a fazer com o Teatro dos Aloés, com o texto Beco das Sardinheiras, de Mário de Carvalho. Resumindo, fiz muitas coisas neste final de ano. Em três meses, foram cinco espectáculos diferentes. A minha cabeça, nessa fase, andava um bocado louca! Inclusivamente, passei com a peça Intimidades, de Woody Allen, com a Companhia da Esquina, pela Marinha Grande e, já este ano, irei a Leiria, com o musical Pinóquio, que é para um público infanto-juvenil.
E na televisão?
Vou começar agora a preparação para uma nova série para a RTP1. É uma história de época chamada Madre Paula, que se passa no século XVIII, acerca de uma relação de amor que teria existido entre D. João V e uma freira, a madre Paula. Vou gravar nos próximos três meses uma personagem para essa série. Serei um nobre rico, mau e muito ambicioso.
Vamos adorar odiá-lo?
Penso que sim! A série é muito gira. Ainda é um pouco cedo para adiantar muito. Será uma história de época, com muita acção, com muitas cenas num estilo misto de Guerra dos Tronos e Downton Abbey, porque o reinado de D. João foi muito intenso: para piorar, o irmão, o infante Francisco, quer destroná-lo e eu pertenço ao grupo dele. Fazer uma coisa de época é um desafio engraçado e, depois, posso fazer uma personagem que é má e ambiciosa, que só quer títulos nobiliárquicos e dinheiro. No meio disto tudo, acabei 2016 a fazer muitas coisas... até fiz um evento para o Hotel Tivoli, da Avenida da Liberdade. Desafiaram-me a montar um espectáculo só para os empregados antigos, dentro do género storytelling, com personagens a contar a história do espaço, desde 1927. Foi um projecto que fiz em parceria com a jornalista Sandra Nobre, que também é originária da zona de Leiria. Apanhámos as histórias todas do Tivoli e de quem passou por lá, desde a Beatriz Costa, ao Pedro Abrunhosa, a várias personagens brasileiras famosas, como a Elis Regina ou o Tom Jobim.
Também trabalhou em cinema em 2016...
Sim. Este ano ainda, deve sair um filme que fiz com o André Badalo, Portugal Não Está à Venda. É uma história que fala de várias situações portuguesas de "sobrevivência", em relação à compra do nosso País pelos estrangeiros. Também participei no Refrigerantes e Canções de Amor, de Nuno Markl, com o Ivo Canelas... e ainda conheci o Sérgio Godinho e o Jorge Palma, que é sempre um privilégio. É bom ir alternando projectos para não ficar apenas pelas novelas.
O facto de a RTP estar a apostar em séries, em vez de novelas é bom, então?
É fantástico! Estou muito curioso para ver a série Ministério do Tempo, que estreia agora. Claro que, a nossa série é mais realista, pois junta factos reais, com a nossa história. Pelo menos, foi o que a autora, a Patrícia Muller me explicou. Curiosamente, também já fiz umas novelas em que ela foi guionista, como o Mar de Paixão.
Conhecê-mo-lo como um actor que dá vida a personagens mais leves e divertidas, como n'O Leão da Estrela ou nas personagens das novelas. Mas, agora, tem à frente o desafio de encarnar um "mau da fita". É mais difícil?
Gosto de variar. Gosto de representação e também gosto de escrita e de usar a minha criatividade para desenvolver personagens e cenas. Escrevo rábulas, storytelling e histórias malucas. Gosto de escrever com liberdade. Escrevo sobre coisas simples, que complico e o resultado é a minha escrita ser uma coisa neurótico-russa! Também faço isso em televisão e cinema. Dou o meu toque pessoal, para aquilo ficar mais fluído ou coerente. Afinal, os actores são pessoas inteligentes e cultas. Têm de o ser. Estamos a lidar com cultura e esta profissão obriga a que tenhamos de ler e entender os textos, mesmo que se seja preguiçoso. Ainda há uns tempos me desafiaram a escrever um texto para um manual do 5.º ano, de introdução ao texto dramático.
É uma profissão exigente.
Não é só pétalas e água-de-rosas. Esta profissão tem muitos picos. Há fases complicadas, quando não há trabalho e é por isso que temos de compensar, trabalhando a dobrar, quando surge algo. E não querendo entrar em politiquices, o sistema fiscal para os actores, os Recibos Verdes, é muito ingrato. As pessoas acham que os actores têm dinheiro, mas a maioria não tem... Costumo dizer que os actores são ricos sazonais e também são pobres sazonais. Se a nossa cara é ligeiramente conhecida, o público pensa logo que temos dinheiro.
A minha terra
André Nunes, 37 anos, actor, é uma face conhecida da televisão e do teatro nacional. Nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a infância e adolescência entre Batalha, Porto de Mós, Leiria, Pombal e Praia da Vieira.
"Ultimamente, tenho regressado à região por causa dos espectáculos, mas mantenho ainda uma ligação forte à Vieira de Leiria, Marinha Grande e à cidade de Leiria, onde tenho vários amigos... e tenho familiares na Batalha e Marinha Grande. Fiz a quarta classe em Leiria e estudei na secundária Loureiro Botas, na Vieira. Vou mantendo contacto, mas tenho saudades da malta.
Considero a zona 'a minha terra' Foi onde vivi a fase dourada da minha juventude". Foi estudar para Lisboa, para concluir a disciplina de Matemática e praticar surf. Acabou por abraçar o teatro.
Com a ajuda da mãe, frequentou o curso na ACT - Escola de Actores, de Patrícia Vasconcelos, logo no primeiro ano de funcionamento da instituição. "É uma vida de loucos. Há muitos jovens que gostariam de abraçar esta profissão, mas não têm noção das dificuldades e instabilidade."
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