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Artistas refugiados da guerra na Ucrânia a viver em Alcobaça inauguram exposição colectiva

29 mar 2023 15:30

O centro de residências artísticas Central-Periférica, em Alcobaça, volta a mostrar obras de artistas que abandonaram a Ucrânia em função da invasão pela Rússia

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São apresentados trabalhos de instalação, desenho, vídeo e fotografia
Yehor Polishchuk

Longing as Struggle – a saudade como luta, numa tradução livre em português – é o título da exposição que é inaugurada em Alcobaça, nesta sexta-feira, 31 de Março, pelas 17 horas, por artistas que acumulam o estatuto de refugiados de guerra.

Valerie Karpan, Oleksandra Lytvyn, Maryna Marinichenko, Clemens Poole, Yehor Polishchuk, Oleksii Voitikh e Kamila Yanar abandonaram a Ucrânia em função da invasão pela Rússia e estão há mais de nove meses em Alcobaça, em contexto de residência artística.

Na Central-Periférica, um centro de residências e investigação artística fundado em Agosto de 2022 pela organização cultural Babel, localizado na Rua Dr. Nascimento e Souza, a exposição Longing as Struggle reúne trabalhos de instalação, desenho, vídeo e fotografia, desenvolvidos desde Maio do ano passado.

Exploraram as ruínas dos complexos industriais da região, observaram as periferias urbanas, procuraram sinais de deterioração na própria residência que habitam, observaram a desigualdade social e o que lhes pareceu resultar de processos de corrupção. Não com o objectivo de desenvolver uma resistência activista de carácter local, mas como forma de estabelecer interpretações próprias e de reavivar memórias antigas do seu país, que os aproximasse ainda que ficticiamente das suas próprias paisagens, hoje destruídas, e ainda em busca de propostas de reestruturação da realidade que pudessem ultrapassar as circunstâncias de uma experiência individual e tornar-se colectivamente relevantes também noutras geografias”, é referido na nota de divulgação enviada ao JORNAL DE LEIRIA.

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Os artistas envolveram-se num processo de investigação artística em torno de memórias fictícias que têm como denominador comum o conceito de Traumascapes, da autora ucraniana, judia e australiana Maria Tumarkin. A historiadora da cultura, ensaísta e novelista descreve, num livro precisamente intitulado Traumascapes, a história, o destino e o poder de lugares, marcados pela dor, violência e perda”, lê-se no texto.

“No mundo em que habitamos, estes lugares estão em toda a parte – são locais de ataques terroristas, catástrofes naturais e industriais, genocídio, exílio, degradação ecológica e urbana, opressão política, restrições da liberdade, desânimo comunitário, e em casos extremos, guerra. Que destino terão estes e outros lugares de sofrimento e perda? Será que, em vez de engolidos pela devastação e pelo desespero, poderão emergir como marcos culturais fundamentais na definição de um futuro diferente para a humanidade e para o planeta? Como resistem estes universos dispersos, que ligações promovem, que memórias preservam, que poder produzem quando operam em conjunto e quebram as fronteiras de qualquer autoridade política, permitindo-se através da arte e da cultura destruir os pressupostos ideológicos vigentes em acções conjuntas, policêntricas e transnacionais?”, questiona a organização, no comunicado de imprensa.

A exposição Longing as Struggle estará patente entre 31 de Março e 5 de Maio e pode ser visitada às sextas-feiras entre as 18 e as 22 horas e aos sábados entre as 15 e as 19 horas.

Foto de Kamila Yanar

Anteriormente, a primeira exposição acolhida pela Central-Periférica, com o título Temporary Corner, da autoria de Kamila Yanar, inaugurada em Julho de 2022, evocou o conflito com a Rússia desde 2014 e narrou as histórias de pessoas forçadas a abandonar as respectivas casas, no Donbass, de onde a artista, ela própria, é originária.

Além de Kamila Yanar, no primeiro grupo alojado na Central-Periférica chegaram ainda Oleksii Voitikh, Valerie Karpan, Maryna Khrypun e Yehor Poe.

Numa conversa com o JORNAL DE LEIRIA, em Julho de 2022, aquando da inauguração do espaço, anunciaram o interesse em “comunicar a cultura ucraniana”, “partilhar conhecimento” e activar a “diplomacia cultural”.

A residência dos artistas em Alcobaça, considerada uma residência de emergência, é apoiada pela organização Artists at Risk e pela Fundação Oriente.

A organização cultural Babel é uma associação sem fins lucrativos cuja missão é gerar oportunidades de investigação, produção de conhecimento e aprendizagem nos domínios da arte contemporânea, arquitectura e ambiente.

Kamila Yanar, Valerie Karpan e Oleksii Voitikh no jardim da Central-Periférica em Julho de 2022 (Foto de Ricardo Graça)

O projecto da Central-Periférica é coordenado por Margarida Saraiva (curadora e presidente da Babel) e Tiago Quadros (arquitecto), que garantem a direcção geral e artística, com a direcção de produção a cargo de Ana Margarida Battaglia Abreu, artista plástica formada nas Caldas da Rainha.

Na Central-Periférica pretendem estabelecer um lugar seguro para o desenvolvimento de um programa criado pelos próprios artistas.

Em Julho do ano passado, ao JORNAL DE LEIRIA, Margarida Saraiva assinalou que as residências artísticas “oferecem tempo, espaço e recursos aos artistas para eles poderem criar”, mas “também têm impacto nas comunidades locais”.

O objectivo é materializar um espaço de produção multidisciplinar e transdisciplinar, com zonas de trabalho, cafetaria e galeria, além de alojamento para 10 artistas em simultâneo. No qual coexistam disciplinas artísticas e não artísticas, para, de caminho, apoiar o tecido criativo da região centro e oeste de Portugal, em articulação com outras periferias nacionais e internacionais.

Localizada no centro histórico de Alcobaça, com limites definidos pelo rio Alcôa e pelo Jardim do Amor, a Central-Periférica inclui, para além de uma casa, um jardim com cerca de 1.000 metros quadrados.