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“Às Duas Horas da Manhã”. Últimas apresentações pelo Teatro da Rainha
A primeira criação da temporada, que pode ser vista até sábado, tem encenação de Fernando Mora Ramos para um texto de Falk Richter
Com interpretação de Beatriz Antunes, Fábio Costa, Mafalda Taveira, Mariana Reis, Nuno Machado e Tiago Moreira, Às Duas Horas da Manhã vai a palco na Sala-Estúdio do Teatro da Rainha, todas as noites, de hoje até ao próximo sábado, 23 de Março.
São as últimas apresentações, sempre com início às 21:30 horas, da primeira criação da temporada pela companhia com sede em Caldas da Rainha.
A encenação é de Fernando Mora Ramos, para um texto de Falk Richter.
“Canções, diálogos fragmentários, palestras motivacionais, entrevistas de emprego que parecem sessões de psicanálise, uma coreografia de penas e referências estilhaçadas convidam o espectador a unir as peças do puzzle que revela a cidade contemplada por Lisa do seu 42.º andar: uma geração emaranhada na teia quotidiana do capitalismo selvagem, cativa de prisões invisíveis onde se funde e confunde o íntimo com o público, o pessoal com o profissional, o real com o virtual”, pode ler-se na nota de divulgação partilhada pelo grupo.
Segundo o mesmo texto, a peça “dramatiza a influência da internet no quotidiano dos indivíduos, vidas íntimas sufocadas pelos percursos profissionais, burnout, stress, solidão, crises nas relações interpessoais, alienação, perda da identidade, a ausência de uma linguagem que permita dar sentido a existências determinadas por uma espécie de script que tudo uniformiza e esvazia de sentido”.
“Esta é uma peça contra as virtudes badaladas do progresso sem fim em que andamos metidos narrativamente, pelo menos desde o início do consumo em massa, da sociedade do espectáculo e do consumo de massas. Opta por estar na contracorrente. Sobe o rio a caminho da nascente. É o incómodo total, nenhuma corrente a favor. É uma experiência radical na forma, mesmo sem um corte absoluto com a tradição, antes a cavalo nela”, escreve Fernando Mora Ramos no site do Teatro da Rainha.
“É um teatro do mal-estar civilizacional que aqui encontramos, pois Richter põe radicalmente em causa o nosso modo de vida, este suicídio progressivo, ritmado em velocidade stressante pelo sucesso da carreira, em direcção a um nada interior que é, como sabemos, também uma catástrofe natural e planetária”, conclui.