Sociedade
Bispos alertam para risco de falência de instituições sociais
Reunidos em Fátima em Assembleia Plenária, os bispos portugueses, pela voz de D. José Ornelas, pediram "uma atenção especial" do Estado a estas instituições, com reforço dos apoios.
A situação financeira "aflitiva" em que se encontram as instituições de solidariedade social preocupam os bispos portugueses que temem falências, com consequências para os milhares de pessoas apoiados pelo sector social.
Falando na abertura da Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), da qual é presidente, o bispo de Leiria-Fátima, D. José Ornelas, alertou para os efeitos da actual crise nas instituições de solidariedade social, muitas delas ligadas à Igreja Católica, cujas dificuldades financeiras se estão a agravar, "colocando em risco" a sua sustentabilidade,
O bispo recordou que a pandemia deixou as instituições numa situação "aflitiva", agravada agora com crise resultante da guerra. "A justa e imperiosa necessidade de aumentar os ordenados dos trabalhadores destas instituições, para fazer face à inflação e aos baixos salários que já recebem, confronta-se com a situação financeira aflitiva" em que as organizações já se encontravam", afirmou D. José Ornelas.
O bispo defende, por isso, uma "atenção especial por parte do Estado" a estas instituições, de modo a que "a sua falência não venha a agravar a situação das centenas de milhares de pessoas que delas dependem.
Medidas anti-inflação são "paliativas"
Na intervenção que proferiu na abertura da reunião plenária dos bispos, que decorre até quinta-feira em Fátima, o presidente da CEP apelou também ao entendimento entre partidos que conduza a políticas "estruturais" para mitigar os efeitos da inflação.
Para D. José Ornelas, embora "importantes para responder ao apoio de emergência", as medidas do Governo são "paliativas", pelo que "é imprescindível" alcançar "convergências de regime com base nos partidos e com consistência parlamentar, a fim de concretizar políticas estruturais, de médio e longo prazo", que permitam combater as consequências da inflação e estimular o crescimento económico e, com isso, reduzir a pobreza e as desigualdades sociais.
Igreja vive "tempo penoso"
O bispo de Leiria-Fátima falou também da investigação aos abusos sexuais na Igreja, um dos temas em destaque na reunião do episcopado. D. José Ornelas reconheceu que "este tem sido um tempo penoso para todos os fiéis, leigos e particularmente sacerdotes, pelo duro embate com uma realidade", mas também se tem revelado "um tempo de purificação, na busca da justiça".
O presidente da CEP voltou a prometer "tolerância zero" nesta matéria e reafirmou a sua "profunda gratidão" às vítimas que "corajosamente" tem dado o seu testemunho, trazendo "luz" a uma "sombria realidade".
O bispo disse ainda que o relatório que está a ser preparado pela comissão independente liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht será um instrumento "fundamental" que ajudará a Igreja na "definição e implementação de estratégias para mitigar a reincidência dos abusos".