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Bruno Miguel, líder da banda :papercutz: "juntámos vários continentes à essência das nossas canções”"

17 nov 2017 00:00

A banda de pop electrónica do Porto, formada e liderada por Bruno Miguel, com voz de Catarina Miranda, toca no sábado à noite n'O Nariz, em Leiria.

Jacinto Silva Duro

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Que :papercutz vão ser os que vão estar a tocar n'O Nariz, neste sábado, dia 18?

Há várias alterações, a começar pelas pessoas que fazem parte do grupo. Estou a falar da entrada da Catarina Miranda, que é conhecida pelo seu projecto Emmy Curl, e isso veio dar-nos uma nova sonoridade. Escrevemos canções baseadas numa instrumentação electrónica, mas vamos buscar influências a uma música tradicional e urbana, oriunda de todo o Mundo. Juntámos vários continentes à essência das nossas canções e elas revelam uma sonoridade própria, com um lado mais exótico, que não tem passado despercebido ao público. Isto surge de influências que eu e a Catarina levamos para a nossa música. No caso dela, isso acaba por se revelar na questão da voz. As pessoas que forem ao concerto em Leiria vão encontrar uns :papercutz reformulados e a abrir portas para o que iremos fazer nos próximos anos. 

Já vários críticos apontaram que o álbum mais recente, King Ruiner, tem um som mais parecido com o vosso primeiro trabalho, Lylac.
Sim e percebo porquê. No primeiro trabalho encontramos um pouco desta exploração sonora e utilização de instrumentos, que referi. No álbum anterior a este, a ideia era tentar criar um som bastante "sujo" e negro, dentro da pop electrónica, enquanto que, no King Ruiner, a coisa não está tão bem definida. Salta um pouco entre sonoridades e, algumas delas, fazem lembrar alguma orientalidade. Isso escuta-se nas melodias e em algumas características instrumentais. 

Mas a voz de Catarina Miranda tem uma presença forte nos temas do disco novo.
Este álbum chama-se King Ruiner, num sentido exagerado de que as coisas nem sempre correm bem, mas que é possível a superação e a sobrevivência. Há uma ideia de combate contra as coisas que não podemos controlar e isso percebe-se na força e na multiplicação da voz dela. Criamos, ao vivo, uma ideia de coro, inspirados na música tradicional africana. Aliás, a nossa própria música tradicional também reflecte isso; é uma ideia de luta contra aquilo que não podemos alterar. A voz da Catarina é explorada dessa forma. É muito melódica e funciona muito bem em camadas, que são processadas digitalmente. Ela já costumava fazer isso no seu próprio projecto musical, Emmy Curl. Na verdade, usamos a voz dela como instrumento. E, claro, ao vivo, o concerto depende muito da Catarina, pois ela é a principal pessoa a comunicar com o público, já que eu prefiro ficar "fechado", por detrás das máquinas e da minha guitarra. 

Mas o Bruno Miguel continua a ser o "senhor e mentor" da sonoridade.
Esse é um termo um pouco pesado, porque sinto que, muitas vezes, ainda estou a explorar o que consigo fazer dentro deste formato de duo e trio. As pessoas não imaginam a quantidade de mãos pelas quais as músicas de um álbum passam, antes de lhes serem apresentadas. Mas a mão "mais pesada" é a minha! Faço a direcção do projecto. Isso resulta na visão própria e caminho dos :papercutz; os álbuns têm uma história, estão interligados, a parte visual está ligada à música e, para tudo isso, é preciso algum cuidado, pelo que faz sentido que passe pelo meu filtro.

:papercutz foi uma banda que entrou na colectânea Novos Talentos Fnac, em 2008. Ao fim destes quase dez anos, o que mudou em si e no seu trabalho?
Este álbum reflecte um pouco o processo que se deu em mim. A minha discografia não é muito extensa, já que a minha ideia nunca foi a de lançar muita música e de fazer grandes tournés. Só a partir do último álbum é que comecei a dedicar-me apenas à música, com vários projectos, como a banda sonora que estou a compor. Ao longo do tempo, aprendi que uma pessoa tem de ter alguma contenção em relação às suas expectativas e a música é uma área onde as pessoas podem dar espaço à sua criatividade. Nela, podemos sentir-nos confortáveis, mas há que ter algum cuidado com a forma como encaramos o que vamos e o que conseguimos fazer na música. Por exemplo, no último álbum, houve coisas que não correram bem e tivemos de aprender com isso. Houve alguns períodos de frustração ao longo destes dez anos e outros muitos bons. Pudemos viajar pelo mundo a mostrar a nossa música e isso é um privilégio. Nesse sentido, sou uma pessoa feliz. 

:papercutz
É uma banda de pop electrónica do Porto formada e liderada por Bruno Miguel. Surgiu como um projecto de música paralelo à sua participação na banda de rock electrónico Oxygen e tornou-se na sua banda principal em 2008. Este sábado, dia 18, a partir das 22 horas, passa por Leiria, pel'O Nariz, onde apresentará o terceiro álbum de originais, King Ruiner, com a nova vocalista Catarina Miranda, conhecida do seu projecto a solo Emmy Curl. Em Janeiro de 2017 o grupo fez parte de uma comitiva de artistas que juntava alguns dos melhores projectos nacionais em representação da música Portuguesa como o país em destaque na edição anual do Eurosonic, o maior festival e conferência da indústria da música europeia