Sociedade
Carlos Poço, provedor da Misericórdia de Leiria: "continuo amigo de Fernando Lopes mas não falo com ele"
Depois de um polémico processo eleitoral, o novo provedor da Misericórdia de Leiria diz que estes primeiros meses serviram para arrumar a casa.
Aquando da sua tomada de posse como provedor anunciou a realização de uma auditoria à misericórdia. Esse trabalho está terminado?
Contratámos duas auditorias: uma à gestão e outra à avaliação da satisfação dos utentes, colaboradores e familiares. Esta última está concluída e, com base nela, estamos a traçar um plano de acção para implementar algumas melhorias.Os resultados da auditoria à gestão serão revelados, em primeira mão, à tutela [bispo diocesano]. Posso dizer que foram detectados alguns actos de gestão que não foram feitos da melhor forma. São questões que iremos corrigir.
A auditoria detectou algumas surpresas?
Foram detectadas outras situações, além das que foram referidas [durante a campanha] e que terão de ser corrigidas. Não quero levantar questões que não trazem nada de bom para a Misericórdia. A preocupação é ver o que está mal e corrigir. A auditoria serviu para fazer a análise da situação e preparar um novo rumo. Posso dizer apenas que os dados confirmam o que foi referido durante a campanha. As contas não têm situações irregulares, mas são preocupantes.
O “arrumar da casa” foi uma das prioridades imediatas que apontou aquando da sua tomada de posse. Já conseguiu fazer essa arrumação?
Já reorganizámos algumas coisas que estava menos bem. Dividimos a gestão em duas áreas distintas: a social e a saúde. O sector da saúde tem estado a consumir os recursos libertados pela área social da instituição. Neste momento, essa rota está corrigida. Os efeitos não são imediatos, mas já se começam a sentir. Temos muito boas instalações de saúde e uma excelente equipa de profissionais. Era preciso controlar alguns custos e aumentar a actividade, trazendo mais utentes aos nossos serviços.
O que está a ser feito nesse domínio?
Iniciamos, em Março, o SAMA – Serviço de Atendimento Médico Alargado, que pretende dar respostas a questões de urgências, das 16 às 22 horas, todos os dias, a um preço, por consulta, muito competitivo, que é de 20 euros. Com este serviço, disponibilizamos também análises clínicas, imagiologia, internamento e acesso a especialistas. Será uma porta de entrada a novos utentes. Celebrámos também contrato com uma equipa médica de ortopedia, em vigor desde Junho, e estamos a estabelecer acordos com várias seguradoras. Com estas medidas, esperamos conseguir o nosso primeiro objectivo, que é o de equilibrar a conta de exploração do Hospital Dom Manuel de Aguiar.
Este ano já será possível inverter o prejuízo de quase meio milhão de euros apresentado pelo hospital?
nossa meta é chegar ao fim do ano com a conta de exploração equilibrada. Não será fácil. Admito que seja um objectivo demasiado ambicioso para o período, mas é nele que estamos a trabalhar, procurando diariamente angariar mais utentes e oferecer mais serviços.
Durante a campanha anunciou pré- -acordos com clínicas de Luanda para operar doentes em Leiria. Como está esse processo?
Ainda é uma possibilidade em aberto, mas, como se sabe, Angola entrou numa fase muito difícil, com a impossibilidade de exportar divisas. Queremos prestar um serviço a troco de pagamento e, por agora, isso não está a ser possível. Mas o interesse mantém-se de parte a parte. O serviço de imagiologia e o bloco operatório estavam sub-aproveitados.
Além do contrato com a equipa de ortopedia, o que está a ser feito para rentabilizar o investimento feito nessas áreas?
Como sabemos, a ortopedia é uma grande consumidora de imagiologia, pelo que a actividade desta área aumentou. Fizemos mais acordos com seguradoras e sub-sistemas de saúde, que nos estão a trazer mais actividade para a imagiologia. Neste sector, a procura está a crescer entre 15 a 20% ao mês. O bloco operatório, por via da ortopedia, vai ter também um incremento grande de utilização.
Quando espera pôr o Hospital Dom Manuel de Aguiar a dar resultados positivos?
Estou convencido que, em 2017, o Hospital D. Manuel de Aguiar já terá resultados positivos. O objectivo é utilizar os meios libertos da área da saúde para a componente social. A missão da Misericórdia é servir, apoiar e cuidar. Servir quem mais precisa, apoiar os irmãos que constituem a irmandade e cuidar daqueles que na doença, no desemprego, na solidão e na velhice possam precisar do seu amparo e do seu serviço. É por isso que gostava que, quem quiser ser irmão, olhe para a instituição como uma forma de colaborar e não de beneficiar dela. A instituição existe para ajudar quem precisa. Às vezes, existe uma visão um pouco deturpada. Há quem pense tornar-se irmão para receber benefícios. O espírito não pode ser esse. Criámos um conjunto de medidas de descriminação positiva para os irmãos, mas o que esperamos deles é que contribuam para que a instituição possa cumprir a sua missão social.
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