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Casas abertas tentam reencontrar o seu espírito “clandestino”
Caldas Late Night: estima-se que 150 a 200 artistas participem este ano, distribuindo-se por 71 casas
Mais de 70 casas de Caldas da Rainha abrirão, durante três dias, 9, 10 e 11 de Junho, as suas portas a exposições artísticas criadas por alunos da Escola Superior de Artes e Design (ESAD.CR) do Politécnico de Leiria, na 25.ª edição do Caldas Late Night, que termina hoje.
Os organizadores esperam devolver o evento às suas origens, enraizadas na produção cultural. “Queremos trazer de volta um sentimento de liberdade artística”, afirma Francisco Mota Dias, membro da organização.
É em 1996 que é realizado o primeiro Late Night, nascido do desejo dos estudantes em expor peças que não haviam sido seleccionadas pelos docentes para as principais exposições da ESAD.CR.
“[Os alunos] queriam mostrar que havia audiência e que os trabalhos tinham valor”, recorda Francisco. “Surgiu sempre de forma orgânica, com iniciativas dos alunos para exporem os seus trabalhos em sítios onde tivessem o poder da palavra e da decisão”, constata, com Raquel Alves, também da organização, a observar que o Late Night “sempre foi um bocadinho clandestino”.
Criando pólos nos únicos lugares a que tinham acesso - as suas casas -, estes estudantes acabavam de lançar a primeira pedra de uma iniciativa que cresceu a olhos vistos, passando a contar com o apoio da autarquia, fazendo uso também de espaços públicos, e apostando num formato de festival. Embora estas escolhas tenham ajudado na expansão do evento, os organizadores receiam que também afastaram o Late Night do espírito que marcou as primeiras edições.
“Nos últimos anos, tem-se tornado mais uma festa final em vez da abertura de casas e do espírito de partilha e convívio”, observa Francisco.
Na primeira edição em três anos, após um interregno causado pela pandemia de Covid-19, a aposta centra-se em voltar a “criar ligações” entre a comunidade artística.
Estima-se que entre 150 a 200 artistas participem na edição deste ano, distribuindo-se por 71 casas.
“Este ano, vamos tentar abrir mais à cidade”, determina Pedro Lopes, destacando a intervenção social que caracteriza muitas das exposições, como projectos de urbanismo ou bancos com materiais reutilizáveis. Os organizadores esperam que este espírito se mantenha durante o ano todo, através de oficinas e conferências de arte. “[Queremos que] não sejam apenas três dias, mas um movimento que pegue.”
Apesar do entusiasmo que o regresso do Late Night possa gerar, nem todos têm recebido a primeira edição do evento em três anos com braços abertos. Devido à pandemia, “as pessoas não querem abrir as casas e os senhorios também não querem deixar”, declara Pedro.
Recorrendo a lojas abandonadas e outros espaços debilitados, esperam “envolver o espaço no processo de construção” das exposições. “É das principais alturas em que há uma ponte de ligação entre a ESAD.CR e as Caldas”, dois organismos “distintos” em termos de localização, observa Francisco.
Esta edição traz consigo uma responsabilidade acrescida, como conta Pedro ao JORNAL DE LEIRIA, pelo “facto de existirem alunos que nunca viveram um Caldas Late Night”. Trata-se de um acontecimento “que se experiencia, que se sente nas ruas e no convívio”, frisa. “É quando a ESAD.CR se apresenta à cidade.”