Saúde

Concelho de Óbidos em risco de ficar só com dois médicos a partir de Fevereiro

19 jan 2022 08:48

Autarquia teme encerramento de quatro das seis extensões de saúde, que servem 9.870 pessoas

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Na recente colocação de clínicos no Oeste, Óbidos não recebeu nenhum médico
Ricardo Graça/Arquivo
Redacção/Agência Lusa

O concelho de Óbidos está em risco de ficar, a partir de Fevereiro, com apenas dois médicos para 9.870 utentes, denunciou hoje a autarquia, que está a reivindicar soluções urgentes para evitar o fecho de quatro das seis extensões de saúde.

“Trata-se de uma situação muito preocupante, que tem vindo a piorar, mas que a partir de fevereiro pode mesmo ficar incomportável com apenas dois médicos a trabalhar no concelho”, explica o presidente da Câmara de Óbidos, Filipe Daniel (PSD).

De acordo com o autarca, este concelho, do distrito de Leiria, deveria contar com “um quadro de pessoal médico de sete profissionais” para prestar assistência aos “9.870 utentes inscritos no Centro de Saúde”.

Porém, “há anos que o concelho tinha apenas cinco médicos”, número que “no último trimestre do ano passado foi reduzido para três, dos quais uma médica já tinha pedido para sair, tendo ficado a pedido do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Oeste Norte a assegurar o serviço só até ao final deste mês”, explica.

Com a saída da médica, o concelho ficará com apenas duas profissionais, “uma na extensão de Saúde do Vau e outra que passará para o Centro de Saúde (na vila)”, ficando sem qualquer médico as restantes extensões de saúde (A-dos-Negros, Amoreira, Olho Marinho e Gaeiras), que o autarca teme que possam “ter que encerrar e obrigar a que todos os utentes tenham que se deslocar à sede do concelho”.

Um panorama "negro" para um território "bastante rural e com uma população envelhecida", sublinhou o presidente, lembrando que Óbidos é na área do ACES Oeste Norte “o único concelho que não tem Unidade de Saúde Familiar” e onde, actualmente, "cerca de 4.800 pessoas não têm médico de família", havendo habitantes que são acompanhados em unidades de saúde do concelho vizinho de Caldas da Rainha.

Em comunicado, a Câmara informou ter já realizado várias reuniões com a directora-executiva do ACES Oeste Norte e ter transmitido “esta preocupação” ao secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Sales, "procurando colaboração por parte do Governo na resolução desta matéria".

A autarquia, que via “alguma esperança” no recente lançamento do concurso para colocação de médicos, acabou por verificar que “foram destinadas cinco vagas para o Oeste (duas para o Bombarral e as restantes para Peniche, Nazaré e Lourinhã), não sendo Óbidos contemplado com nenhuma”.

"É difícil aceitar esta resolução", afirma Filipe Daniel, citado no comunicado, no qual a Câmara critica também que a carência “em matéria de infraestruturas, que é uma responsabilidade do Governo”, tenha que ser "suprida pela" autarquia, que vai avançar com uma reparação de 534 mil euros para resolver os problemas de degradação do Centro de Saúde que ficará temporariamente a funcionar no Pavilhão Desportivo Municipal.

A Câmara manifestou ainda disponibilidade para contribuir para a colocação de mais médicos através de um protocolo entre a autarquia, o ACES Oeste Norte e a Santa Casa da Misericórdia, que “possibilitariam a contratação de profissionais de saúde que se encontrassem aposentados para suprir, a curto prazo, as cerca de 90 horas semanais necessárias para resolver o problema”.

“Há a possibilidade de se contratar médicos com um horário até às 20 horas por semana”, mas, segundo Filipe Daniel, “apenas um médico manifestou disponibilidade, o que é preocupante”.

O município, que se tem “mostrado disponível para colaborar criando condições para a fixação de médicos em Óbidos (cedendo residência) e, durante a pandemia, contratou dois enfermeiros e disponibilizou quatro colaboradores”, considera agora “posto em causa o serviço prestado aos utentes”, já a partir do próximo mês.