Economia
Custo da energia desce, mas garrafas estão a preço recorde
Produtores de vinho estranham situação e pedem ajuda ao Governo
Os produtores de vinho já não sabem o que fazer. Quando a agressão russa à Ucrânia iniciou, há um ano, o preço da energia para a produção de vidro disparou.
A situação já não era boa, pois os preços das garrafas para engarrafar vinho, há muito que estavam altos, mas os vitivinicultores acreditaram que seria uma situação transitória e a sua fileira, tal como outros sectores económicos muito dependentes de energia para produção, teria de suportar o impacto.
Mas o tempo passou, as rotas comerciais e mercados ajustaram-se, foram criados apoios, foi-se assistindo a uma diminuição do preço da energia. Certamente, agora, o preço das garrafas baixaria. Mas não, o valor continua alto e a ser suportado pelos produtores.
A situação é tão grave que a Associação Nacional dos Comerciantes e Exportadores de Vinhos e Bebidas Espirituosas (Anceve), na pessoa do seu presidente, Paulo Amorim, pediu a intervenção urgente do Governo, para a criação de uma “plataforma de diálogo”, para que os sectores do vinho e do vidro possam analisar a situação e “procurar a forma mais eficaz de abordar e resolver este gravíssimo problema”.
A baixa do preço da energia “não teve, lamentavelmente, ainda qualquer reflexo no fornecimento das garrafas, que continuam a ser colocadas no mercado com preços recorde”, refere o responsável, adiantando que “os produtores de vinho estão a ser confrontados com custos do vidro que estão em média mais de 55% acima dos valores pré-guerra e com alcavalas no seu fornecimento”, tais como taxa de energia, valor do transporte e exigência de pagamento antecipado.
“Estranhamente, não há qualquer reflexo no custo das garrafas”, resume Paulo Amorim. Pedro Filipe Rosado, da Paço das Cortes, concorda “em absoluto” com o presidente da Anceve.
“O ano de 2022 foi fértil em aumentos constantes do vidro, sem qualquer pré-aviso, e as rupturas nos fornecimentos penalizam altamente as margens das empresas produtoras ou engarrafadoras de vinho, que têm contratos a cumprir sem poder reflectir nos preços aumentos que atingiram 55%”, salienta e adianta que já há previsão de possíveis aumentos adicionais durante o primeiro trimestre de 2023.
“Agora com os argumentos da ‘volatilidade’ de preços e dos mercados e a insegurança da situação política e económica, tanto nacional como internacional.”
Na Herdade do Rocim, que se assume como uma produtora de vinhos de forma sustentável, a expectativa também era de que, à medida que o mercado ia contratando novos produtores de energia e outras soluções encontradas, também o vidro acompanharia a mesma trajectória e o valor baixaria.
“Não consigo perceber a razão para esta situação. Parece que há algo que foge ao nosso domínio, para que as empresas vidreiras não baixem o preço do vinho”, resume Pedro Ribeiro, da Rocim, destacando que, considerando o já falado aumento de preços das garrafas, o que se está a passar no sector é “muito grave”.
Os produtores e exportadores não têm estado parados e procuram fornecedores em mercados alternativos, como a Polónia e a Alemanha, e mesmo na China.
“Mas os custos logísticos tornam esta operação totalmente inviável. A situação é altamente preocupante pondo até em causa a continuidade de muitas empresas e afectando drasticamente as nossas exportações”, entende Pedro Filipe Rosado, num entendimento partilhado por Paulo Amorim.
O presidente da Anceve prevê mesmo que, “para muitos produtores, sobretudo os que se posicionam em segmentos mais competitivos, o aumento do custo do vidro, que não tem paralelo noutros países, deixa-os dramaticamente fora do mercado”.
O número
688
produzidos em 2022. Além do
custo elevado e da expectativa
de aumento dos preços das
garrafas de vidro para vinho, há
ainda uma situação de escassez
de muitos modelos de garrafas.
“Ao contrário do que acontece
noutros países vinícolas
concorrentes, o que tem
obrigado os produtores a
alterarem constantemente
procedimentos e rotulagem,
para adaptarem a sua produção
aos modelos disponíveis, o que
afecta gravemente a
consistência das suas estratégias
comerciais e de marketing”,
avisa ainda o responsável das
Anceve, Paulo Amorim. O
Instituto da Vinha e do Vinho
revela que Portugal produziu na
última vindima cerca de 688
milhões de litros de vinho,
muitos deles destinados ao
engarrafamento e posterior
exportação.