Desporto

Driblar entre resultados para atirar ao cesto da formação

20 jun 2022 10:00

A aposta na formação e a vontade de divulgar a modalidade reabriram a secção de basquetebol da União Desportiva de Leiria que já conta com quase uma centena de atletas

Equipa sénior disputou esta época a subida de divisão
Equipa sénior disputou esta época a subida de divisão
Carla Oliveira
Mini-basquete é a principal aposta
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Carla Oliveira
UDL Basquetebol reforçou este ano a aposta no feminino
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DR
Patrícia Carreira Gonçalves

Driblam com a bola pelas quatro linhas para arremessar os adversários. Dos mais pequenotes e pequenotas aos seniores, encontramos em cada um motivos diferentes para se dedicarem à modalidade. Mas todos falam da paixão pelo basquetebol.

“Gosto muito desta colectividade, ajuda-me a crescer enquanto pessoa e jogadora e até na escola sinto que fico mais calma e sei lidar melhor com os problemas”, confidencia envergonhada Laura Nunes, do Soutocico, no concelho de Leiria.

A meio do treino de segunda-feira e escondida das colegas à porta do pavilhão da escola D. Dinis, quase se engana na idade (17 anos) mas sabe perfeitamente que começou nestas andanças há quase uma década no clube da sua terra. E isso nota-se quando entra em campo com a camisola da União Desportiva de Leiria e deixa a vergonha para correr pelos objectivos comuns que se concretizam com a bola no cesto. Ri-se. “É isto”, atira a fã de Michael Jordan.

Mais novinha e já cansada do “suicídio”, o exercício de aquecimento cujo nome diz tudo, Sofia Fonseca, de 13 anos e do Zambujo, partilha que experimentou a modalidade a convite de uma amiga. “Nunca tinha em mente fazer isto, mas achei uma coisa diferente e gostei”, explica de sorriso rasgado e olhos bem azuis uma das mais recentes atletas da equipa.

“No fundo elas aprendem a brincar e, mesmo que não se ganhe nada, isso é o mais importante”, acrescenta o treinador.

De regresso, como técnico, ao campo onde começou por ser jogador, Pedro Custódio, de 44 anos, conta que “até as tabelas são as mesmas” e confidencia que apenas trocou de lado do campo “por causa do filho” que está no mesmo clube.

Ciente de que “representar a União Desportiva de Leiria é um peso grande porque é um dos clubes que mais nome dá à cidade e acarreta muita responsabilidade”, garante que os “atletas têm merecido muito respeito pelo esforço e dedicação que colocam em campo”.

E isso é transversal: do minibasquete onde os miúdos se deixam encantar pela modalidade, passando pelos vários escalões de forma- ção nos dois géneros até à equipa sénior masculina que este ano esteve muito perto de alcançar a primeira divisão.

São eles que, pouco depois, entram em campo no Pavilhão do Lis, nas Cortes, para consolidar o trabalho conquistado. Mesmo depois da época ter acabado.

“O que é que esta equipa tem de especial? A versatilidade entre pessoal com alguma experiência e outros mais novos que vieram da formação, espírito de equipa, garra e o querer vencer”, não hesita em responder o vice-capitão Marco Dias, de 30 anos, mesmo depois de um longo dia de trabalho.

Como a maioria dos miúdos da sua idade, também ele começou por jogar futebol mas rapidamente trocou as balizas pelos cestos nos intervalos e horas de almoço dos tempos de escola e hoje assume “emoção e amor à camisola” na modalidade.

Talvez por ser um “jogo onde estão sempre a acontecer coisas”, tenta traduzir o colega Tiago Neves, de 20 anos. A estudar desporto e bem estar, está a terminar o curso de treinador e dá os primeiros passos como técnico com a equipa de formação sub-14. “Acredito que estamos todos a fazer um bom trabalho para afirmar o basquetebol na União”, sublinha quem começou a driblar há mais de dez anos porque era “o maiorzinho da turma”.

Felizmente, interrompe entre risos o treinador que está no banco, “isto já não é exclusivo de pessoas altas”. “O basquetebol tem evoluído muito no aspecto técnico e hoje em dia os jogadores fazem tudo, independentemente da altura, e todos têm de saber jogar com bola, sem bola, fora, dentro”, explica sobre a modalidade onde “há espaço para todos”.

Além de técnico, Pedro André, de 52 anos, é também presidente da secção. Nos tempos de escola foi atleta de andebol, mesmo sabendo que o seu coração era do basquetebol, e rapidamente percebeu que seria treinador.

“Sem amarras”, garante que deixa a porta aberta para quem quer entrar e sair mas nem assim a equipa deixou de o acompanhar pelos clubes por onde passou até chegar ao leiriense.

“A base desta equipa sénior tem atletas que eu treino desde pequenos, está aqui muito do que lhes passei e do que construímos”, sublinha emocionado.

Modalidade renasceu na União

Adeptos de uma “escola de aprendizagens, valores e pessoas”, três treinadores aproveitaram o embalo da saída de um clube da região para fundar um novo projecto.

Com filhos nas equipas, Pedro Custódio, Pedro André e Sérgio Ludovino assumiram a missão e responsabilidade de formar e acompanhar atletas de todas as idades. Renascia assim, ao fim de várias décadas, a secção de basquetebol da União Desportiva de Leiria, clube que além de futebol tem também futebol de praia, bilhar e eSports.

“Queríamos fazer algo diferente e acredito que estamos a conseguir porque aqui os atletas têm nomes e conhecemos-los todos... Não são números e os resultados vêm sempre depois”, afirma Pedro Custódio.

O arranque com mini-basquete e a equipa de seniores conquistou muitos atletas mas a pandemia e as respectivas restrições atrapalharam os primeiros tempos. Três épocas depois, o clube aposta no feminino, reforça a formação em vários escalões e conta com quase uma centena de atletas.

“O projecto do mini-basquete é fundamental para divulgar a modalidade e captar jovens atletas, e a equipa sénior é importante para a continuidade da formação porque faz os mais pequenos terem objectivos no desporto”, explica o presidente. Com ambição de aumentar o número de atletas mas certo de que a aposta nos “alicerces da casa” se vai manter, garante que “há muito trabalho para fazer” e mostra-se “feliz com o projecto”.

Uma época de conquistas

Apesar de o objectivo principal ser “a formação e o crescimento dos atletas”, certo é que os ingredientes colocados no clube estão a traduzir-se em resultados.

A primeira época 2019/20 foi manchada com o início da pandemia, depois 2020/21 praticamente não existiu por causa das restrições e, agora, 2021/22 foi a hora de erguer a camisola branca com o emblema do castelo.

“O trabalho compensa, a dedicação dá frutos e o compromisso dá garantias”, sublinha o técnico Sérgio Ludovino sobre as disputas na distrital mas também na nacional.

Numa época em que foram “o clube com maior presença nos pontos altos da Associação de Basquetebol de Leiria”, o treinador enaltece as conquistas dos campeões distritais sub-14 que guerrearam o apuramento para o nacional, os vice-campeões sub-16, o encerramento do pódio conseguido pelos sub-18 e o quarto lugar das sub-16 femininas.

O clube esteve também presente com escalões de formação em competições organizadas pela Federação Portuguesa de Basquetebol e levou os seniores à disputa da primeira divisão.