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Filipe Eusébio, actor: Criadores têm de estabelecer equilíbrio com público
Filipe Eusébio, 37 anos, é natural de Pombal, estudou naquela cidade e licenciou-se em História, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Em pequeno, seguia o pai, Joaquim Eusébio, fundador do Teatro Amador de Pombal (TAP) para os ensaios
Onde está sediada a sua nova companhia Meio Caminho Teatro? A meio caminho entre Leiria e Coimbra?
Não tem propriamente um local onde está sediada. Não está sediada em Leiria, não está sediada em Pombal... É um projecto que não tem um local. Esse é mesmo um dos seus princípios. Juntamo-nos, especificamente, para projectos que surgem e temos trabalhado na área compreendida entre Coimbra e Leiria. Pombal fica a meio caminho, é verdade. O Meio Caminho Teatro, nos seus projectos, pretende estabelecer uma ponte com o espectador. Foi um nome que, geograficamente, batia certo e, em termos do que pretendíamos fazer, também o fazia. Somos um colectivo de criação. Eu e o João Almeida iniciámos esta companhia e, depois, juntou-se-nos o João Artur Alegrete.
Que trabalho têm desenvolvido nesse grupo?
Os dois projectos que apresentámos em 2016 foram o Audiência, de Václav Havel, um texto que trabalhámos para salas e estamos, neste momento, a fazer adaptações para outros espaços. Em Julho, para a Praça das Letras, um evento literário que aconteceu em Pombal, criámos um site specific para a praça Marquês de Pombal, usando diferentes textos.
É filho de um dos fundadores do Teatro Amador de Pombal, Joaquim Eusébio, e foi membro do TAP e da sua Direcção...
Foi no TAP que comecei o meu trabalho no teatro. Todos os elementos que passam por aquela casa mantêm sempre uma ligação mais ou menos directa. Neste momento, não estou no activo no TAP, mas também tenho essa ligação.
Formou-se em História, mas abandonou o trabalho como professor para se dedicar a uma carreira no teatro.
Sim. Larguei o ensino. Durante todo o meu percurso no secundário, o meu objectivo nunca foi enveredar pelo teatro, mas dedicar-me à História. Durante dois anos, fui professor no Instituto D. João V, no Louriçal, e gostei muito e até cheguei, mais tarde, a leccionar História da Cultura das Artes. No entanto, naquela fase da minha vida, aos 25 anos, senti que, ou fazia uma aposta no Teatro, no sentido de obter uma profissionalização, ou o ciclo da vida iria seguir de uma outra forma. Até hoje, nunca me arrependi de o fazer.
A formação em História tem sido positiva no projecto de recriações históricas que tem feito com Pedro Oliveira, n'O Nariz, no Mosteiro da Batalha?
Sim, tem. O meu primeiro cruzamento entre Teatro e História surgiu na primeira companhia profissional onde trabalhei, a Viv'Arte, onde estive uma temporada a fazer recriações históricas, normalmente, associadas a feiras medievais. O trabalho com O Nariz, é uma experiência mais tardia, pois cheguei ao espectáculo da companhia, quando o Pedro Oliveira já o tinha criado. O mosteiro é o cenário perfeito que, sem dúvida, tem um lado educacional, de visita, de conhecimento do espaço, mas que não é uma pura instrumentalização do teatro. Consegue embalar o espectador num cenário ficcional, onde, a todo o momento, é convidado a embarcar e, depois, a parar e a observar. É algo que me agrada muito e há largos meses que fazemos essas visitas.
O que lhe dá mais gozo? Representar textos de Václav Havel ou os de Luís Mourão?
Ambos são tão diferentes e tão bons... Penso que o teatro não tem directamente a ver com o texto. É apenas mais um elemento. Se prefiro o Havel ou o Mourão? Depende para quem estou a falar, o que estou a dizer, o que pretendo dizer e quem vai escutar. É o tal "meio caminho" que referi há pouco. É preciso encontrar uma ponte para a comunicação. Muitas vezes, os criadores têm de encontrar um ponto de equilíbrio entre o que se quer comunicar e a recepção de quem vai assistir à obra. Isso não quer dizer que haja uma "comercialização" e um optar pelo mais directo. Será que aquilo que quero comunicar tem um impacto na vida do outro que o faz interessarse por isso? O texto é uma parte do teatro e depende do que se quer comunicar.
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