Sociedade
Fóssil de leopardo-das-neves descoberto em Porto de Mós revela mistérios da espécie
O fóssil de leopardo, descoberto em 2000, no Algar da Manga Larga, na freguesia de Mendiga, Porto de Mós, trouxe novos dados à ciência sobre a espécie, que está “criticamente ameaçada”
O fóssil, que se encontra no Museu Geológico de Lisboa, foi estudado por uma equipa internacional, incluindo cientistas da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, que concluiu que afinal não se trata de um fóssil de um leopardo comum, mas sim de de um leopardo-das-neves, cujos ossos se encontram no Museu Geológico de Lisboa.
Segundo o estudo, citado por um comunicado da Nova FCT, durante as fases mais frias da última Idade do Gelo, os leopardos-das-neves “expandiram-se para além dos Himalaias, até à China Central, numa reviravolta surpreendente, também para o Oeste, até à Península Ibérica”. Foi, aliás, neste território, mais propriamente no concelho de Porto de Mós, que se encontrava o esqueleto do exemplar estudado, incluindo um crânio “quase perfeitamente preservado”, conhecido pelo ‘Leopardo do Algar da Manga Larga’.
O estudo deste fóssil permitiu aos investigadores concluir que os leopardos-das-neves “dão prioridade a terrenos íngremes e rochosos e a climas frios, sem precisar necessariamente de altitudes elevadas” como se defendia até aqui, assinala aquele comunicado.
A investigação possibilitou ainda a recolha de elementos sobre as características “únicas” da espécie, que a diferenciam dos leopardos comuns. Estes, “evoluíram ara caçar presas rápidas, e ágeis em habitats parcialmente florestais”, enquanto os leopardos-das-neves desenvolveram características distintas para “dominar as paisagens montanhosas, incluindo molares maiores, crânios abobados e mandíbulas e patas mais fortes, perfeitas para abater presas robustas como cabras montesas”, avança o comunicado da Nova FCT.
Segundo o estudo, a sobrevivência dos leopardos-das-neves em terrenos montanhosos e estéreis” implicou adaptações das espécie, como o melhoramento da visão binocolar, uma grande estrutura craniana ectotimpánica para uma melhor audição, e membros poderosos para suportar o impacto de saltos entre rochas e uma cauda longa para equilíbrio”.
Estas descobertas “têm implicações significativas para a conservação dos leopardos-das-neves, uma espécie criticamente ameaçado”, assinala aquela nota de imprensa, que cita Darío Estraviz-López, um dos investigadores envolvidos no estudo, que considera “uma grande surpresa encontrar um membro desta linhagem de felídeos no Plistocénico de Portugal”.
“Isto comprova a relevância de reestudar materiais depositados em museus, assim como a colaboração internacional, pois esta descoberta só foi possível graças a grande contextualização com outros materiais procedentes da China”, assinala o investigador, que é estudante de doutoramento em Geologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.