Economia

Grupo Transwhite. Um negócio que nasceu de uma paixão pelos camiões

2 jun 2024 13:00

Logiqueen integra o Top 50 das empresas mais exportadoras, na 37.ª posição

grupo-transwhite-um-negocio-que-nasceu-de-uma-paixao-pelos-camioes
Filipe Calçada, responsável pela comunicação do Grupo Transwhite
Fotografia: Ricardo Graça
Jacinto Silva Duro

No Grupo Transwhite, sediado em Caldas da Rainha, que integra a empresa de organização de transportes Logiqueen, o volume da carga transportada realizada anualmente divide-se entre 46 % para exportação e o restante para importação.

Sempre com a garantia do “on time”, ou seja, a chegada, impreterivelmente, dentro do prazo contratado.

A Logiqueen integra o Top 50 das empresas mais exportadoras, na 37.ª posição. É uma das maiores da região, tendo registado, em 2022, um volume de negócios de 22,2 milhões de euros.

Deste valor, 13,9 milhões resultam de exportações comunitárias.

“A Transwhite gere a frota dos camiões e a Logiqueen gere a logística, ou seja, quando os clientes contratam os serviços de transporte contratam a Logiqueen que, depois solicita os serviços da Transwhite, para fazer o transporte da mercadoria”, explica Filipe Calçada.

O responsável pela comunicação da empresa adianta que os principais sectores para onde a empresa trabalha são o alimentar, especialmente a fileira horto-frutícola, com exportações de Pêra Rocha e Maçã de Alcobaça, destinadas principalmente à Alemanha, Reino Unido, Países Baixos e Estados Unidos da América, por via do porto de Roterdão.

“Além dos produtos refrigerados também trabalhamos com muita carga seca, que não exige temperaturas baixas.”

O número

22,2

milhões de euros foi o volume de negócios em 2022. Deste valor, 13,9 milhões de euros resultam de exportações comunitárias

Além das indústrias do têxtil e do calçado, a operação passa pelas peças para automóveis, construção, electrónica, tecnologia, maquinaria e saúde (medicamentos).

O sector é extremamente concorrencial e as margens de lucro dos operadores, nos últimos anos, têm sido “muito esmagadas”.

Um dos principais problemas do sector debate-se ainda com resultados penalizados pelo aumento constante do preço dos combustíveis, pelas portagens, pelos seguros - que, na Transwhite, atingem um valor anual de dois milhões de euros.

Cargas muito valiosas trazem problemas acrescidos de segurança em todo o sector e os roubos podem ser um problema, embora todas as cargas sejam seguradas.

“Tudo tem de ser muito bem gerido, e a dona Manuela Sábio, a nossa administradora, responsável pela parte financeira, tem tido um papel muito importante nesta gestão equilibrada.”

A Transwhite opera cerca de 300 veículos pesados, entre viaturas frigoríficas e lonas, e dá emprego a 510 pessoas.

Certificações e reconhecimento

O Grupo Transwhite conta com várias certificações e reconhecimentos a nível nacional e internacional, que resultam da forma como opera no quotidiano e das condições dadas aos colaboradores.

Mas há outras marcas que são consideradas igualmente importantes.

Uma delas foi a fasquia dos 100 camiões na frota da empresa, alcançada em 2017.

O objectivo era manter esse número pois, em termos logísticos e de recursos humanos, gerir um tal número de veículos representa já de si uma tarefa bastante complexa.

Mas, sem que nada o fizesse adivinhar, nos anos que se seguiram, houve um boom de trabalho nos Países Baixos e na Alemanha, onde a actividade da empresa se focava maioritariamente.

“Houve clientes que nos contratavam um ou dois camiões por semana, e que começaram, de repente, a contratar quatro ou cinco. Ou estagnávamos e perderíamos clientes, ou andávamos para a frente e dávamos resposta.”

A aposta foi ganha e nem a pandemia da Covid-19 fez parar o crescimento. Hoje, a Transwhite opera cerca de 300 veículos pesados, entre viaturas frigoríficas e lonas, e dá emprego a 510 pessoas.

Em 2018, a empresa foi certificada pelas normas ISO 9001 e ISO 14001, galardões que Filipe Calçada justifica com “muito trabalho e muito empenho”, devido a exigências, cada vez maiores, a nível dos recursos humanos, do transporte das cargas e dos timings. 

Em 2019, alcançou a certificação da TAPA - Transported Asset Protection Association, impulsionada pela procura dos clientes por transportadores com esta insígnia.

“Trata-se de uma certificação para transporte de mercadorias perigosas ou de alto valor. A TAPA é dividida em três patamares, TAPA 1, TAPA 2, TAPA 3. A 3 representa o nível mais básico, o 2 já é mais exigente, e o TAPA 1, muito exigente. Por exemplo, uma carga de alta segurança, do Governo, que pode ser armamento e vir dos Países Baixos, terá de vir num camião com sistemas que vão de alarmes à vigilância e ser acompanhado por helicóptero ou polícia. É um TAPA 1. Os motoristas têm de ter formação para este tipo de serviço. Fizemos, há pouco tempo, um TAPA 2, para Lisboa, com peças de avião muito caras, selado num camião frigorífico”, recorda, com orgulho, o responsável pela comunicação da empresa de Caldas da Rainha. 

Oportunidades de negócio

Além da Transwhite e da Logiqueen, o grupo conta ainda com a empresa WhiteCar, que gere as oficinas que fazem a manutenção da frota operacional, mas não só.

“Como aqui, na zona de Caldas da Rainha, há pouca oferta de oficinas para veículos pesados e temos aqui empresas com grandes frotas, como a Thomaz dos Santos, a Rodoviária ou a Câmara Municipal de Caldas da Rainha, que nos perguntavam se havia a possibilidade de fazer aqui a manutenção, fizemos a experiência de abrir o serviço ao exterior.

A alternativa para estas empresas era ir para Leiria ou Lisboa. Ao fim de seis meses os nossos próprios caminhões já estavam a ficar para trás e os nossos mecânicos não conseguiam dar vazão ao serviço. Construímos, por isso, uma segunda oficina multimarca, maior, dedicada apenas a veículos pesados e a original passou a fazer manutenção de ligeiros”, recorda Filipe Calçada.

E, claro, foi ainda preciso aumentar a equipa de mecânicos. 

Outras oportunidades surgem de uma boa gestão do património.

Na Transwhite, a troca atempada dos camiões com motores de última geração tem permitido uma acção mais pro-activa, relativamente ao ambiente e ainda poupar combustível e reduzir emissões de gases com o potencial de provocar alterações climáticas.

Para escoar o parque de veículos obsoletos, o administrador José Mota teve a ideia de encurtar o tempo de utilização das viaturas, comercializando-as ainda semi-novas e com muito mais valor, através da criação de uma nova área de negócio. Isto permite um maior retorno e um investimento menor na hora de adquirir novos veículos.

Camiões mais modernos são sinónimo de ganhos em eficiência.

Em termos comparativos, há nove anos apenas, em média, um tractor tinha um consumo médio de 40/42 litros por cada 100 quilómetros percorridos. Hoje, esse gasto de combustível é de 26/28 litros, com muito menos poluição.

“Neste momento, há zonas da Europa onde os camiões Euro 4 já não são autorizados a circular!”, lembra Filipe Calçada, que recorda uma experiência feita com um camião movido a gás na Transwhite, que, no papel, parecia muito positiva, mas que soçobrou devido às deficiências da rede de abastecimento a nível europeu.

“Eu não tenho estudos, a minha vida sempre foi trabalho”

Todas as caminhadas, mesmo a mais longa, já dizia Lao Tsé, começam com um simpes passo. E foi assim que, há 20 anos, começou o caminho do Grupo Transwhite.

José Mota, CEO do grupo, sempre foi um homem com uma grande paixão por camiões.

Na juventude foi ajudante de motorista, antes sequer de poder conduzir um destes veículos. “Eu não tenho estudos, a minha vida sempre foi trabalho”, é uma das suas mais conhecidas frases, neste empreendimento, contudo, não esteve sozinho, uma vez que a Transwhite é fruto de um trabalho de equipa. Em 2004, com Manuela Sábio, a mulher, também ela motorista de pesados, juntaram as poupanças e compraram um camião “muito velhinho” de marca Volvo.

Depois, lançaram-se na aventura de percorrer as estradas europeias, revezando-se ao volante e trabalhando de sol a sol, amealhando clientes e paletes, que transportavam de e para os Países Baixos.

“A falar o inglês que sabia, que já era a língua franca dos negócios, o senhor José chegava ao destino e, nos tempos mortos, ia bater às portas das empresas e explicava que tinha uma pequena empresa de transportes e que, se tivessem alguma coisa para mandar para baixo, para o sul, para França, Espanha ou Portugal, ele podia transportar”, conta Filipe Calçada.

O porta-a-porta haveria de ser fundamental para fundar a Transwhite, um nome que surgiu também da paixão pelos veículos pesados.

José Mota sempre adorou camiões brancos como a neve pura que brilha num dia de sol. E o nome surgiu naturalmente.

Ainda hoje, a maioria dos veículos é dessa cor e são lavados e postos a brilhar todas as semanas, em instalações criadas para o efeito. 

“Apostamos muito na imagem, na manutenção em dia, e temos a lavagem que funciona todas as noites. Temos o feedback dos nossos clientes de variadíssimos países que nos dizem que os nossos camiões são lindíssimos e sempre limpinhos. Claro que ajuda no negócio, sem dúvida alguma. Se um cliente vir um dos nossos camiões no cais, saberá que uma empresa que tem este cuidado com a frota, também o terá com a mercadoria.”

Em 2016, a Transwhite instalou-se em novas instalações nas Caldas da Rainha, e, em 2020, procedeu-se à aquisição de um grande armazém em Oosterhout, nos Países Baixos. Em 2022, deu-se a abertura de uma unidade em Albergaria-a-Velha, à beira da Auto-estrada do Norte - A1 e da A25, que também é uma base logística com armazém.

A empresa conta ainda com instalações em Badajoz, Espanha. 

“Quase todos os nossos camiões passam por lá, onde fazem lá a grupagem ou logística da mercadoria”, explica Filipe Calçada.

Nas instalações foi dada muita atenção às condições de conforto dos motoristas. os fundadores, José e Manuela que conhecem a vida atrás do volante, percebem a necessidade de dar as melhores condições possíveis aos colaboradores.

“A todos os colaboradores. Quem nos visita, e passa pela recepção ou nas nossas salas, diz que quase parece um hotel. Devido ao tempo que passamos aqui, é tudo muito acolhedor”, diz o responsável pela comunicação, salientando que, em termos de ESG, as partes social e da governança são bastante visíveis no quotidiano.

Hoje, José Mota e Manuela Sábio administram um grupo que conta com negócios em várias áreas, da manutenção automóvel, aos transportes ou comércio de marisco e restauração.