Economia
Indústria da pedra quer exportar mais, mas dificuldades logísticas impedem
O sector da pedra natural tem trabalho e poderia exportar mais, mas há vários obstáculos que estão a dificultar a actividade. Falta de pessoal e custos energéticos são dois deles
Apesar de enfrentar diversos constrangimentos, o sector da pedra natural é “bastante resiliente” e tem conseguido aumentar as suas exportações.
No ano passado as vendas aos mercados externos ultrapassaram os 435 milhões de euros e em 2022 há já um aumento na ordem dos 16% nas exportações.
Mas as empresas deparam-se com vários problemas que estão a afectar a sua actividade.
Depois da pandemia, e num cenário de guerra na Ucrânia, o aumento dos custos de contexto é uma das maiores preocupações, adianta ao JORNAL DE LEIRIA Célia Marques, vice-presidente executiva da Assimagra, associação que representa a indústria portuguesa dos recursos minerais.
“Os custos com energia e com combustíveis triplicaram, o que é um grande entrave à competitividade deste sector altamente exportador”, sublinha. As exportações estão ainda a ser condicionadas por questões logísticas. “Não há contentores e os preços aumentaram”.
A falta de mão-de-obra, não sendo de agora, é outra das grandes preocupações do sector. “Tem havido uma sangria nas empresas devido a reformas antecipadas.
Por outro lado, não há jovens a entrar”, frisa Célia Marques, considerando que a imigração pode ajudar a mitigar o problema, mas que tal só acontecerá se forem criadas condições de habitação e outras que permitam acolhê-los.
“Há obras, o sector tem trabalho, mas depara-se com questões como a falta de pessoal, custos de contexto elevados e problemas logísticos”, diz a vice-presidente executiva da Assimagra, apontado uma outra preocupação: o acesso ao território.
“Tem havido restrições ano após ano e estamos muito apreensivos com a nova lei das pedreiras. Esperamos que aquilo que vier a ser publicado seja aplicável no terreno”.
A Mocamar, uma das cerca de 100 empresas que na semana passada estiveram na feira Stone, na Batalha, tem sentido dificuldade em arranjar contentores para exportar as suas pedras.
Vende blocos para a China, chapa e produto acabado para todo o mundo. Desde que os portos foram obrigados a abrandar ou mesmo a parar, devido à pandemia, que se sentem problemas para arranjar contentores.
“E o preço dos fretes disparou”, afirma João Oliveira, responsável do departamento de vendas desta empresa de Alcanede, que também acusa a falta de mão-de-obra.
“Para a fábrica ainda se vai arranjando, para as pedreiras é mais dífícil. Precisávamos de pelo menos mais duas pessoas. Empregámos dez trabalhadores nos últimos dois anos”, conta.
Também a 2L Stone, empresa do concelho de Porto de Mós que transforma pedra para vários usos, precisa de contratar mais pessoas para a área da produção, para poder crescer.
“Mas não encontramos”, lamenta Homero Coutinho, técnico de gestão. “Nota-se um aumento do trabalho e queríamos até ao final do ano ser pelo menos seis pessoas, em vez das três actuais”.
Com 20 anos de actividade, a Rustistone, de Turquel, produz artigos de pedra em face natural, para o mercado português e para exportar para alguns países europeus.
Neuza Morgado, uma das responsáveis da empresa do concelho de Alcobaça, que também esteve na Stone, fala igualmente na dificuldade em encontrar mão-de-obra como sendo um dos principais constrangimentos.
A empresa conta com 20 trabalhadores, mas precisava de mais “para crescer”. “Só se encontram estrangeiros, e temos de ser nós a formá-los”.
Dado que os artigos que produz são feitos sobretudo de forma manual, com menor recurso a maquinaria, “é ainda mais difícil encontrar pessoas”, reconhece.
A gestora aponta como outros constrangimentos a “incerteza do mercado quanto ao que será o próximo ano”, devido à subida das taxas de juro e dos custos das matérias-primas, dos combustíveis e da energia.