Sociedade

Investigadora de Porto de Mós coordena estudo que aponta propriedades anti-cancerígenas à camarinha

20 jul 2020 11:08

Aida Moreira da Silva coordena, juntamente com Maria João Barroca, um estudo que mostra "resultados promissores" no uso de extracto de camarinhas no combate ao cancro do cólon.

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Planta endémica da Península Ibérica, a camarinha abunda junto às praias da região
DR

Natural de Porto de Mós, Aida Moreira da Silva é uma das duas coordenadoras de um estudo cujos primeiros resultados, hoje divulgados, evidenciam que o extracto de camarinha, planta endémica da Península Ibérica comum junto às praias da região, poderá ter propriedades cancerígenas.

Nas várias experiências desenvolvidas "em linhas celulares de cancro do cólon" por uma equipa da Unidade de Investigação e Desenvolvimento Química-Física Molecular, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), observou-se que "extractos de camarinha conseguem inibir a proliferação deste tipo de células cancerígenas", refere uma nota de imprensa da Universidade de Coimbra.

Citadas no documento, as investigadoras da FCTUC Aida Moreira da Silva e Maria João Barroca, coordenadoras do estudo e docentes da Escola Superior Agrária de Coimbra, sublinham o facto de o extracto obtido a partir das folhas da camarinheira se ter mostrado "mais eficaz do que propriamente o extracto das bagas de camarinha".

"O que é muito interessante, atendendo a que as folhas existem durante todo o ano, enquanto as bagas são sazonais", argumentam as autoras da investigação.

O trabalho, que envolveu a utilização de várias técnicas físico-químicas, mostrou "resultados promissores" e a equipa de investigadores tenciona agora alargar os testes ‘in vitro', aplicando os extractos das folhas e bagas do arbusto em células de outros tipos de cancro.

"Estamos a explorar as várias partes da camarinha e da camarinheira. Mesmo dentro do fruto estamos a explorar evidências e comportamentos que nos possam fornecer informação para eventuais futuros fármacos", avançam Aida Moreira Silva (à direita na foto) e Maria João Barroca.

"Pretendemos recuperar estas bagas ancestrais, que eram usadas como antipirético e vermicida", relembram.

As especialistas estão ainda apostadas em explorar uma vertente gastronómica da camarinha, "tendo já recuperado várias receitas antigas, para que, por um lado, não se perca este património e, por outro, possa contribuir para a subsistência de alguns agricultores da orla marítima portuguesa".

Notam que apesar de abundante na orla marítima de Portugal, a camarinha "está ainda por explorar e a literatura científica sobre a espécie é relativamente reduzida".

O estudo foi realizado no âmbito das actividades previstas no projeto "IDEAS4life", financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e cuja equipa conta com a participação de investigadores da Escola Superior Agrária de Coimbra, da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, através da Rede de Química e Tecnologia e do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.



Percurso

Entre a docência e a investigação

Natural de Porto de Mós, Aida Moreira da Silva é doutorada em Química pela Universidade de Lisboa e professora coordenadora na Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Coimbra, onde está responsável pelo mestrado em Biotecnologia e pela licenciatura em Gastronomia. Integra ainda Unidade de I&D Química-Física Molecular da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) desde a sua fundação, dedicando a sua actividade de investigação ao estudo de compostos de inclusão baseados em ciclodextrinas por espectroscopia vibracional e ao desenvolvimento de alimentos funcionais. É a responsável pela actividade “Halophyte plants valorisation” do projecto SOS VALOR.