Viver
João Paulo Silva, assessor de imprensa: "gostaria de fazer documentários sobre vida selvagem”
Se estivesse ligado ao mundo da arte, o que seria?
Gostaria de fazer documentários sobre vida selvagem. Fico hipnotizado quando os vejo, em especial se forem sobre África. Será isto arte? Escritor também seria um bom sonho, mas é uma coisa muito soltaria, dá cabo da cervical e é preciso ter unhas.
O projecto que mais gozo lhe deu fazer.
Este em que acabei de participar, o livro Contos Imperfeitos, a convite do Mosteiro da Batalha, em parceria com o Paulo Kellerman e o Joaquim Ruivo. Foi muito gratificante a adesão dos escritores, tal como o resultado final.
O espectáculo, concerto ou exposição que mais lhe ficou na memória
Vi a Maria João e Mário Laginha há uns anos, não sei quantos, no Teatro José Lúcio da Silva. A música deles, sem palavras, contava histórias.
O livro da sua vida
São vários. Na infância foi As minas de Salomão, traduzidos por Eça de Queirós, uma aventura a que regressei muitas vezes naquelas intermináveis férias de Verão. Na adolescência, O despertar dos Mágicos, de Louis Pauwels e Jacques Bergier. A descoberta do mundo com base numa obra que vai da alquimia às sociedades secretas, sem esquecer a ciência e o oculto, sempre num registo de conspiração. Na idade adulta é mais difícil escolher. Até agora, talvez O nome da rosa, mas sempre na expectativa do que se segue.
Um filme inesquecível
Gato preto, gato branco, de Emir Kusturica.
Se tivesse de escolher uma banda sonora para si, qual seria?
É difícil afunilar apenas numa. Depende muito do estado de espírito. Talvez o Afinidades, com o Sérgio Godinho, cantado pela Manuela Azevedo, ou OK Computer, dos Radiohead, ou esta que estou a ouvir e que revelo na próxima resposta.
Um artista que gostava de ter visto no Teatro José Lúcio da Silva?
Ela, a Nina Simone.
Uma viagem inevitável
Entre a Gândara dos Olivais, onde resido, e a Bajouca, onde está a minha família. Noutro plano, uma viagem que fiz pelo Alentejo, sem rumo, guiado pelo acaso, e que hei-de repetir, eventualmente por outras paragens do País.
Um vício que não gostava de ter
Uma certa mania para realizar de forma compulsiva as tarefas que me são colocadas à frente.
Um luxo
Ver a família toda reunida. É cada vez mais raro, pois os Silvas estão a construir a sua própria diáspora, agora até com ligações ao Vietname, mas os momentos juntos são um verdadeiro luxo.
Uma personalidade que admira
Uma só não chega. A minha mãe, uma verdadeira matriarca-âncora, o meu pai, que era o melhor homem do mundo, como foi descrito há algum tempo por um vizinho, e o Aristides Sousa Mendes, ainda pouco valorizado entre nós.
Uma actriz que gostava de levar a jantar
A Fernanda Montenegro (pelo filme Central do Brasil). Um restaurante da região O Porto Artur, por nos fazer sentir em casa.
Um prato de eleição
Frango guisado com arroz de ervilhas, mas apenas se for feito pela minha mãe.
Um refúgio (na região)
É a lareira da minha infância, na Bajouca. Um lugar que não já existe na plenitude, depois da partida do meu avô e do meu pai. Foram muitas as tardes invernosas da minha infância que ali passei a jogar à bisca com o meu avô, o ‘Portelita da Tabela’. Não tanto pela batota que fazia, mas mais pelas aventuras que me contava e em que era sempre o protagonista, embora desconfie que se tenha apropriado da maior parte delas. Era também à volta dessa lareira que me reunia com os meus pais e os meus sete irmãos. Depois fomos crescendo, cada um seguiu o seu rumo e foi construindo a sua própria lareira. A velha lareira da Bajouca ainda se acende, em especial nos dias festivos, agora com novas crianças, e continua a ser um refúgio mágico.
Um sonho para Leiria
Leiria vive um momento especial. Tem gente que faz e acontece. Primeiro agigantou-se economicamente e agora afirma-se também como cidade de eventos e qualidade de vida. Desejo que continue neste rumo e que a candidatura a Capital Europeia da Cultura seja indutora do aparecimento de uma nova indústria, a cultural.