Sociedade
Jorge Periquito: “O desejo de qualquer empresário é poder pagar os salários mais justos”
O empresário defende que melhorar o rendimento dos trabalhadores que auferem o salário mínimo não passa apenas pela sua subida, mas também pela descida da carga fiscal.
O salário mínimo volta a estar em cima da mesa na reunião da concertação social agendada para o próximo dia 19. Tem-se falado de 557 euros para 2017, sendo que a meta seriam os 600 euros em 2019. Enquanto empresário, como comenta?
O desejo de qualquer empresário é poder pagar os salários mais justos e mais adequados aos seus funcionários. O que agrada aos empresários é ter trabalhadores satisfeitos, o que passa obviamente pelos salários. Infelizmente, a conjuntura económica nem sempre é a que desejaríamos. O sector agrícola tem passado por períodos extremamente difíceis e custa-me ouvir falar sobre valores para o salário mínimo sem isso estar ligado a qualquer coisa, como a produtividade ou a descida dos impostos. Todos concordamos que as pessoas que ganham o ordenado mínimo, ou pouco mais que isso, terão imensas dificuldades em gerir a sua casa. O que acho impressionante é que ao longo do tempo os políticos tenham sempre considerado que a solução vem só pela via de maiores ordenados e não pela diminuição da carga fiscal. Melhorar o nível de vida das pessoas com menos rendimentos não pode passar apenas pela subida do ordenado mínimo. Tem de passar também pela diminuição da carga fiscal que, independentemente do partido que está no governo, tem aumentado ano após ano.
Portugal é um país pouco amigo das empresas, do investimento?
Os governos é que têm sido pouco amigos das empresas. Isso nota-se no controlo e nas pressões que são feitas. Temos problemas gravíssimos. Muita gente entende que a questão da legislação laboral está resolvida, eu continuo a achar que não. Há ainda problemas para resolver no que diz respeito às leis laborais e à contratação.
Quais os aspectos que é preciso resolver?
A flexibilidade. Acredito que ela não traz desemprego, pelo contrário. Se houvesse mais capacidade de adaptar rapidamente as pessoas que trabalham nas empresas às necessidades pontuais, a contratação aumentaria. Este ano, por exemplo, a produção [de fruta] baixou cerca de 20%, logo há menos produto a tratar. Mas com a legislação actual dificilmente as empresas conseguem adaptar os seus recursos humanos à realidade. Que no sector agrícola tem de ser flexível de ano para ano, porque está dependente da natureza. Temos um conjunto de lojas, onde as coisas estão a correr bem, mas pode deixar de ser assim. Assumo compromissos com as pessoas que a legislação actual dificilmente deixa quebrar. Devia haver mais flexibilidade. Quanto mais flexibilidade houver mais emprego será gerado. Indiscutivelmente.
A Frubaça foi fundada em 1986 mas só iniciou a actividade em 1992. Não foi fácil o arranque do projecto…
Começámos a juntar-nos em 1986, dois anos depois foi aprovado um projecto pelo Ministério da Agricultura. Demorou bastante tempo a conseguir encontrar pessoas que acreditassem que um projecto destes era possível, que podia ir para a frente. Percebemos desde o início que com a entrada de Portugal na União Europeia iria haver problemas na comercialização e na organização das estruturas produtivas. Alguns países já tinham resolvido estes assuntos há umas décadas, nós ainda estávamos habituados a um mundo fechado em que os agricultores produziam e os consumidores consumiam o que eles tinham produzido, sem grande discussão acerca deste assunto. Juntámo-nos para ver se conseguíamos fazer coisas que individualmente não tínhamos capacidade de fazer. Sozinho não poderia gastar dinheiro em marketing ou em tecnologia de ponta, porque não conseguiria rentabilizá-la. Provámos que em conjunto era possível.
As pessoas estão hoje mais conscientes da importância das parcerias, da cooperação?
Sim. Mas hoje, devido à concorrência existente em todos os mercados, seria mais difícil iniciar um projecto deste género. Não sei se teríamos os mesmos resultados se fizéssemos a Frubaça hoje, embora com os mesmos princípios de 1992. Actualmente é tudo muito mais competitivo. Seria bem mais difícil. Lamento que os vários programas europeus que têm financiado a mudança da agricultura portuguesa, a entrada de jovens e a introdução de novas culturas se tenham preocupado demasiado com a parte produtiva e pouco com a parte comercial. Vêm ter connosco imensas pessoas que começaram actividade de cultivo de figo da Índia ou mirtilo, culturas promissoras, mas que são difíceis de escoar se não houver um canal muito bem definido. Tiveram financiamento para produzir, mas não houve a necessária atenção à parte comercial.
Em 2001 foi criada a Associação de Produtores de Maçã de Alcobaça (APMA). Que mudanças é que esta estrutura trouxe à fruticultura da nossa região?
Notoriedade. Foi extremamente importante. Quem está hoje na produção de maçã tem um problema gravíssimo: deixou de poder produzir maçã. Quem só produzir maçã não tem qualquer hipótese de competir com os italianos, com os franceses, com os espanhóis, que têm condições de produção muito diferentes das nossas. Hoje é importante produzirmos uma maçã qualquer coisa. Seja Maçã de Alcobaça, seja maçã transformada… Temos de arranjar maneira de valorizar o produto. A associação tem um papel importante, porque permite que a nossa maçã seja diferenciada e porque foi criada uma imagem diferente da produção, o que tem sido extremamente importante para a rentabilidade das explorações e para a notoriedade da agricultura que se pratica aqui.
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