Sociedade

Montanhas de sobrantes inflamáveis acumulam-se em zonas florestais

1 ago 2022 12:26

Custo associado ao transporte para centrais onde seriam transformados em energia, leva à acumulação de detritos inflamáveis, potenciando probabilidade de incêndio

Dois casos flagrantes no concelho de Leiria, na freguesia dos Parceiros e na estrada que liga Monte Redondo ao Coimbrão
Dois casos flagrantes no concelho de Leiria, na freguesia dos Parceiros e na estrada que liga Monte Redondo ao Coimbrão
DR
Dois casos flagrantes no concelho de Leiria, na freguesia dos Parceiros e na estrada que liga Monte Redondo ao Coimbrão
Dois casos flagrantes no concelho de Leiria, na freguesia dos Parceiros e na estrada que liga Monte Redondo ao Coimbrão
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Jacinto Silva Duro

São montanhas de ramos, cascas, arbustos e espécies de pequeno porte sem interesse comercial, depositadas, bastas vezes, à beira de estradas municipais e junto a zonas de plantação de eucalipto ou de pinhal.

Por lei, cabe ao madeireiro ou ao proprietário, findo o abate e transporte das árvores maiores, fazer a limpeza do terreno e retirada de sobrantes, porém, muitas vezes, estes aglomerados repousam durante meses e até anos, a aguardar a recolha para centrais de biomassa ou de fabrico de pellets.

“Outras vezes, à noite, por obra e graça do Divino Espírito Santo, começam a arder e ‘desaparecem’”, conta o geógrafo físico e antigo bombeiro João Forte.

O custo associado à remoção e transporte para centrais onde estes restos seriam transformados em energia ou em pellets, leva à acumulação de detritos secos como papel e extremamente inflamáveis, potenciando a probabilidade de incêndio.

“É um fenómeno a que tenho assistido, um pouco por todo o lado nos últimos anos”, a adianta João Forte. É um cenário de “perigo de incêndio acrescido” que leva Domingos Patacho, técnico florestal da associação ambientalista da Quercus, a dizer que quem explora a fileira “tira o lombo e deixa os ossos”.

“Como estamos em seca extrema, deveria haver mais sentido de responsabilidade por parte dos exploradores florestais. As empresas deste sector também devem ter responsabilidade social”, reivindica.

Ambos os ambientalistas fazem notar que também a fiscalização não é feita com a competência necessária, “quando é feita”. “E há poucas pessoas que tenham coragem para denunciar os vizinhos, quando a situação se verifica”, adianta João Forte.

“Isto acontece essencialmente com os pequenos produtores”, diz Mário Oliveira.

O presidente da associação ambientalista OIKOS, que também coloca o dedo na ferida e acentua o risco imediato para a propagação de incêndios através desta prática, explica que os grandes produtores não desperdiçam a oportunidade de adubar os terrenos florestais e ajudar no crescimento de novas árvores, através da aplicação de destroçadoras que reduzem os sobrantes a pequenos pedaços que são espalhados no solo.

“É uma palermice não usar aquela biomassa para adubar e limitar-se a ficar à espera que chegue o fogo!”

A visão é partilhada por João Paulo Forte que acredita que a solução poderá passar, a médio prazo, pelo uso generalizado de destroçadoras, seguido de espalhamento da estilha resultante no solo florestal.

“Penso que vamos assistir a um aumento deste processo.”