Abertura
Natal é pouco amigo do ambiente
Apesar de haver na generalidade das pessoas uma maior consciência ecológica, as famílias continuam a aumentar desenfreadamente o seu consumo para comprarem o que precisam e não precisam,
“Olá, meu herói do Natal. O meu nome é Miguel e tenho 11 anos. Este ano quero um telemóvel ou um colchão para dormir. Acho que mereço o que lhe pedi porque me portei bem nas aulas e em casa, ajudei a minha mãe, especialmente a cozinhar, porque às vezes não tem tempo e outras porque eu quero (...).”
Miguel pede apenas um de dois presentes ao Pai Natal, desconhecendo que este ano irá receber também um jipe telecomandado, porque os pais entendem que, sendo uma criança, deve viver a magia de Natal. Mas, no total, entre tios e avós, que representam uma família grande, Miguel poderá receber cerca de uma dezena de prendas.
Miguel vai ser surprendido na hora de abrir os presentes. Não espera tanto porque sabe bem o que quer e também tem noção que nem tudo correu bem. “Não posso esquecer quando sujei a casa com uma experiência que fiz”, penitencia-se.
Miguel herdou dos pais uma forte consciência ambiental. Apesar da tenra idade, já percebeu que é possível viver um Natal mágico sem o consumo excessivo associado à época.
Além de pedir poucos presentes, sabe que na noite de Consoada se produz muito lixo, pelo que é dos primeiros a desafiar os adultos para o reduzir e reciclar. Mas, sobretudo, quer evitar o desperdício, como, aliás, contamos pais.
Tal como Miguel, a maioria das pessoas com quem o JORNAL DE LEIRIA falou, ambiciona um Natal mais amigo do ambiente, embora seja reconhecido que não é fácil mudar comportamentos. Mesmo assim, há uma tentativa de resistirem ao consumismo desenfreado típico desta época, conscientes de que quando mais comprarem mais lixo é produzido e mais desperdício é alimentado.
Todos falam do excesso de presentes que as crianças recebem actualmente, por comparação com o passado, mas a maioria reconhece que é um processo difícil de gerir, principalmente quando se tem famílias numerosas.
Pais e avós vão, assim, tentando gerar o equilíbrio entre a vontade, típica da época, de oferecer tantas prendas e a necessidade de serem mais contidos. Para bem do ambiente e da valorização do presente pela própria criança!
Ana Milhazes, socióloga, fundadora do Movimento Lixo Zero Portugal, cortou o mal pela raiz, não oferecendo nem recebendo presentes.
Aliás, confessa que entre os seus amigos e familiares, apesar da consciência ambiental que já existe em todos, continua a oferecer-se presentes de Natal. “Com a minha postura, não quero que as pessoas mais próximas sejam radicais, mas que pensem duas vezes e que em vez de comprarem dez, possam reduzir para cinco.”
A socióloga marca, desta forma, a sua posição “contra o consumo”, alegando que não faz sentido, nesta que é a época de que mais gosta, desde miúda, continuar a haver estes excessos.
“Quando era criança, tinha dois ou três presentes e era muito bom. Hoje cometem-se excessos que dificultam a vida ao planeta. No Natal, para mim, é tempo de rever a família. Todas as prendas à volta desvirtuam o seu espírito.”
Segundo Ana Milhazes, é tempo de se perceber que as próprias crianças não valorizam o excesso. Veja-se as cartas que escrevem ao Pai Natal, cujos pedidos, na sua maioria, não passam de dois ou três presentes.
“Sabem o que querem, mas os adultos passam sempre do limite. As crianças não conseguem brincar com tudo e nem dão valor às coisas. Vi os meus primos a abrir um presente e a colocar de lado, a abrir outro e outro e a não brincarem com nenhum. É horrível”.
Mais grave, diz, “a maioria das pessoas não consegue fazer a ligação entre o excesso de consumismo e as questões ecológicas”, o que considera “uma incongruência”, num momento em que tanto se tem apelado à necessidade de
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