Viver
Nesta Casa Comum, a arte toma partido pela Natureza
É inaugurada hoje, no BAG – Banco das Artes Galeria, em Leiria, a nova exposição de Hirondino Pedro e Sílvia Patrício
Diz o (quase) consenso científico que estamos a experienciar um período em que o ser humano, enquanto espécie, contribui para alterações climáticas com efeitos potencialmente devastadores, mas, na exposição Casa Comum, de Hirondino Pedro e Sílvia Patrício, com pintura, desenho, escultura, instalação e fotografia, a inaugurar esta sexta-feira, 30 de Abril, em Leiria, a Natureza retoma o centro dos acontecimentos.
Nesta Casa Comum, a casa é, já se vê, “uma metáfora” para o planeta.
“Há muitos elementos na Natureza, incluindo o Homem”, explica Hirondino Pedro. “E só cuidando deles poderemos sobreviver”.
É a arte “a pensar os problemas reais que vivemos hoje”. E a procurar respostas. Hirondino Pedro dá-lhe nome: arte regenerativa.
O mote encontra-se, por outro lado, na instalação O Diálogo das Quatro Estações, de Sílvia Patrício, que se inspira no conflito e na desordem a que os dias e as noites estão sujeitos, na actualidade, com Verão e Inverno tantas vezes fora de tempo.
“Cada uma [das estações] tem de encontrar o seu lugar e não consegue”, comenta.
Ou, ainda, nas duas braçadeiras em bronze com que a artista de Leiria conduz o olhar para a situação dos refugiados que morrem a tentar atravessar o Mediterrâneo.
“A economia põe o objecto acima da Natureza e da vida humana”, resume. O peso do metal sobrepõe-se, afunda valores.
Casa Comum, aberta ao público a partir de amanhã, 1 de Maio, no BAG – Banco das Artes Galeria, é uma reflexão a dois, tanto artística como ecológica, que constrói uma ponte entre o mundo interior e o mundo exterior, com Sílvia Patrício num plano idílico, transcendental, como um grito silencioso, e Hirondino Pedro a expressar a potência, a diversidade e a fertilidade contidas na matéria.
Uma exposição com som e cheiro, com sementes e flores, com areia no chão e plantas, que tem também um lado de activismo, de intervenção, de apelo à acção.
“Regenerar a cultura e regenerar a Natureza” para “regenerar o social”, propõe Hirondino Pedro.
O circuito expositivo coloca o público perante uma série de aguarelas em que árvores são destruídas com o auxílio de máquinas e ferramentas, a tecnologia que só a civilização é capaz de produzir.
Segue-se, na primeira sala, uma estrutura construída a partir de canas e, nas paredes, diversos trabalhos dispostos com menos régua e esquadro do que costuma acontecer numa galeria ou museu, opção que permite a comparação com as interdependências entre plantas no contexto natural, sem ordem aparente.
Já no piso superior do BAG, a pintura Paraíso, de Sílvia Patrício, procura representar a relação “entre a natureza e a economia, um serpentear de um sobre o outro, como que um jogo”, eventualmente marcado por deslumbramento ou tragédia.
Na derradeira sala, o chão coberto de areia, um oceano, uma mulher, “ambos berços da vida”, escreve Sílvia Patrício no texto de apoio à exposição, desafiam a contemplar e a reflectir.
E, em Casa Comum, está sempre presente o convite para colocar a Natureza e a vida humana à frente dos guiões materialistas que, quase sempre, orientam o quotidiano.
“Um olhar activista sobre a sociedade e os tempos de agora”, resume Ana David Mendes, coordenadora do BAG.
Casa Comum, para ver até 18 de Julho, em Leiria.