Abertura
“O cansaço é a maior cicatriz que vai ficar”
A “morte por Covid não é fácil, porque normalmente são doentes que estão muito conscientes"
“Foi um susto. Somos uma unidade diferenciada e a primeira a receber doentes Covid no hospital. Nos primeiros meses a palavra dominante foi o medo. Agora, é o cansaço”, afirma Emanuel Araújo. O coordenador da Unidade de Cuidados Agudos Polivalente do Hospital de Santo André, do Centro Hospitalar de Leiria, recorda que “ninguém queria entrar” na zona Covid e “quem achava que era mais vulnerável não contactava com doentes” que tivessem sido infectados com o SARS-CoV- 2. “Equipávamo-nos todos, parecia que estávamos a ver doentes com Ébola.”
À medida que se foi conhecendo melhor a pandemia, foi possível “descomplicar”. “Já vemos os doentes sem luvas, que é importante, e usa-se uma máscara de protecção FP2, uma touca e uma bata. O medo passou e não era só por nós, mas também de quem vivia connosco”, garante. Muitos profissionais já se infectaram e alguns até duas vezes. “Felizmente para todos correu bem. Agora, assistimos a outra coisa, que também é grave: substituímos o medo pelo cansaço”, alerta.
As situações vividas não foram fáceis para nenhum elemento da equipa. Emanuel Araújo considera que “o cansaço é a maior cicatriz que vai ficar”. Os profissionais “estão a ficar muito cansados desta situação”. “Falo de enfermeiros e auxiliares. A nossa equipa médica é baseada em colaboradores e temos conseguido manter uma escala mais ou menos estável, apesar de algumas falhas nomeadamente à noite, o que depois sobrecarrega os enfermeiros e auxiliares”, constata.
Emanuel Araújo exemplifica: “Temos cinco enfermeiros de manhã. Se estivessem todos a prestar cuidados, tínhamos os rácios adequados, mas sendo que um dos enfermeiros é coordenador e tendo doentes, é uma tarefa hercúlea.” Além disso, a unidade está dividida em dois espaços físicos diferentes. “Se houver uma emergência à noite nas urgências só estão aqui dois enfermeiros. Não pode sair ninguém para ajudar”.
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