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Ópera na Prisão em projecto internacional com tecnologia de vanguarda
O projecto Traction vai levar câmaras e novas tecnologias ao Pavilhão Mozart do EPL-J, com o objectivo de proporcionar ensaios de ópera e concertos em tempo real
O dossiê Ópera na Prisão da SAMP está a entrar numa nova dimensão que integra 40 jovens reclusos do Estabelecimento Prisional de Leiria (EPL-J) num consórcio internacional com instituições de cinco países, durante três anos.
O projecto Traction vai levar câmaras e novas tecnologias ao Pavilhão Mozart do EPL-J, com o objectivo de proporcionar ensaios de ópera e concertos em tempo real.
Com ferramentas de realidade virtual aumentada, é possível ter a Metropolitan Opera e a Opéra National de Paris “dentro do estabelecimento prisional”, exemplifica Paulo Lameiro, o coordenador do grupo português, que está sedeado em Leiria. E com o sistema de imagem e som, os pais, avós, tios, primos ou amigos dos reclusos podem participar à distância, mas em directo, por exemplo, a partir de outras cidades em Portugal ou mesmo do estrangeiro.
Ao contrário do previsto, o Pavilhão Mozart, que já devia estar concluído, não é certo que fique pronto até ao final do ano, admite o director-geral de Resinserção e Serviços Prisionais, Rómulo Mateus, que explica a indefinição com a imprevisibilidade associada à pandemia de Covid-19.
Reinventar a ópera em Leiria, Dublin e Barcelona
Mas o projecto Traction está no terreno, desde Janeiro. E continua a avançar. Conforme anunciado durante a conferência de imprensa que decorreu ontem no Museu de Leiria, reúne a SAMP, o Grande Teatro El Liceo de Barcelona e a Irish National Opera, além de universidades e institutos de investigação europeus, com liderança da empresa tecnológica basca Vicomtech e colaboração do especialista francês François Matarasso.
No esforço para combater a desigualdade e envolver comunidades em risco de exclusão, o projecto Traction quer em simultâneo transformar a ópera, criar uma experiência imersiva digital, inovar na ligação com o público e renovar a criação artística com a participação de não-profissionais.
Até 2022, três equipas de co-criação vão juntar profissionais e não-profissionais no desenvolvimento de novos espectáculos de ópera que, a seu tempo, serão apresentados em público: Dublin está a mobilizar trabalhadores do campo, Barcelona actua nos bairros de migrantes onde se encontram dezenas de nacionalidades e origens, Leiria prolonga a essência do Ópera na Prisão, que coloca os reclusos a cantar e também dialoga com os familiares, os funcionários e hierarquia do EPL-J, os artistas e os decisores locais, incluindo, pela primeira vez, uma magistrada do Ministério Público.
A mudança dentro da prisão
Um projecto artístico “com dimensão social, humana, criativa, comunitária” que procura “ajudar os reclusos” no regresso ao mundo exterior e compreender como cada um de nós pode auxiliar “as pessoas que cometeram erros”, afirma Paulo Lameiro.
O resultado são testemunhos como o de um ex-recluso que falou por videoconferência a partir de Amarante e explicou que o Ópera na Prisão da SAMP “mudou completamente” a sua visão do mundo e “maneira de interagir com as pessoas”.
Para o director-geral de Reinserção e Serviços Prisionais, Rómulo Mateus, este é “um desafio extraordinário”, mas a oportunidade de “trazer a mudança para dentro do estabelecimento prisional”.
Leiria vai envolver 80 familiares e 50 artistas, além de 40 reclusos. Os compositores são Nuno da Rocha, Francisco Fontes e Pedro Lima, o libretista é o escritor leiriense Paulo Kellerman. Primeiras apresenções em 2021.