Viver
Palavra de Honra | O futuro é um conceito sobrevalorizado
Liliana Ponces, formadora e empresária
- Já não há paciência… para as redes sociais que são, para mim, uma versão moderna do julgamento das bruxas. Opiniões, argumentos e ofensas que
acentuam os extremismos, e ao pouco nos vão roubando o entendimento comum sobre o qual assenta a noção de sociedade.
- Detesto… pouca coisa. Detestar consome imensa energia e ocupa bastante tempo e por isso nem me ocorre algo em que aplicar um sentimento tão forte.
Não gosto de coco nem de pudim, e ainda assim não os detesto, coitados, deixam-nos lá ir à vida deles!
- A ideia… do empreendedorismo é demasiado idealizada e romantizada quando na maior parte das vezes é uma luta, por vezes inglória, contra
dificuldades maiores que nós. Fazer acontecer dá muito trabalho e recompensa pouco, mas pessoas fortes não são feitas de histórias fáceis por isso quando
chegar a velhinha devo ser invencível.
- Questiono-me… se algum dia vou achar que já está, que a minha lista de tarefas para esta vida está completa, que já não há ideias, projetos ou sonhos
para perseguir. Ou se vou olhar sempre para o tempo que tiver pela frente como uma obra inacabada e ainda com tanto por fazer.
- Adoro… as memórias que os cheiros evocam, como o cheiro de lume que invade esta cidade nas noites de inverno, uma evidência das lareiras acesas
que me reconforta. O cheiro do pinhal nos dias de chuva e do mar em dias cinzentos.
- Lembro-me tantas vezes… das férias intermináveis de quando era criança, de aprender a nadar no rio, de andar descalça pela rua da aldeia da minha avó,
de andar na brincadeira solta todo o dia e só regressar a casa de noite.
- Desejo secretamente… ou não tão secretamente assim, afastar-me da cidade e arranjar uma casa num monte pouco povoado, ter terra ao pé de mim
e ter mais silêncio que barulho de carros.
- Tenho saudades… de pessoas juntas, de noites de música, de abraços apertados e cumprimentos além de cotoveladas. Tenho saudades de coisas
que pensamos estar garantidas até ao dia em que deixam de estar.
- O medo que tive… já passou. O medo é assim, assustador, mas acaba por passar, porque a solução está sempre para lá do medo. Sou mulher, sou mãe,
sou empresária, tenho vários medos, todos os dias. Escolho dar-lhe o menos confiança possível.
- Sinto vergonha alheia… mais vezes do que o desejável, quando vejo bêbados que não se aguentam de pé, discussões de casal em público e
perante os erros crassos de português com que me cruzo por aí.
- O futuro… é um conceito sobrevalorizado, ensinam-nos a pensar e a agir com o futuro em mente, quando ele é e será sempre incerto. É o passado que
temos de honrar e com o qual temos de aprender. O futuro idealiza-se, mas o presente realiza-se e nós adiamos demais e agimos de menos. Eu não sou
exceção, infelizmente.
- Se eu encontrar… a luz ao fundo do túnel volto para vos dizer o caminho. Eu acredito que todos temos um propósito, mas acho mal não nos terem dado
instruções, por isso se eu depois puder ajudar, podem contar com isso.
- Prometo… pouca coisa porque o que prometo é para cumprir, e já vivi o suficiente para saber que podemos mudar de ideias, opiniões, perspetivas e
pontos de vista, e aquilo que antes fazia sentido, deixa de fazer. Por isso, talvez prometa apenas fazer melhor, um dia de cada vez.
- Tenho orgulho… em mim, mesmo que nem sempre me sinta totalmente confiante. Tenho orgulho na minha filha e na pessoa que se vai tornando, tenho
orgulho no meu trabalho, naquilo que alcanço e até naquilo que deixo para trás. Tenho orgulho na minha família e de todos os que vieram antes de mim.