Viver
Palavra de Honra | Que Humanidade seremos se perdermos a proximidade do toque?
João Francisco Gomes, jornalista.
- Já não há paciência ... para o funk brasileiro que invadiu as pistas de dança. Perdoem-me, amigos brasileiros: isto não é contra vós. Mas é uma dificuldade dos diabos encontrar um bar de rock’n’roll. Se alguém conhecer um bom, que me avise, por favor. Pode passar rock’n’roll brasileiro.
- Detesto... erros ortográficos. E aquela mania irritante de acabar as frases com preposições. É coisa que não tenho pachorra para.
- A ideia... de uma bola-de-berlim sem creme repugna-me. Pronto, está dito. Prefiro passar a noite num bar de funk brasileiro.
- Questiono-me se... voltaremos a beijar-nos e abraçar-nos como antes. Pode um vírus destruir aquilo que de mais humano temos? Ou, por outro lado, que Humanidade seremos se perdermos a proximidade do toque?
- Adoro... comer bem. E nem é preciso inventar. Tanto vou ao Gambrinus como à rulote do Dany (notável estabelecimento móvel, habitualmente no estacionamento do parque de campismo da Praia da Vieira), mas não tenho dúvidas da superioridade da segunda.
- Lembro-me tantas vezes... de ouvir os adultos a pedir-me que aproveitasse a infância — e de lhes responder que o que eu queria mesmo era chegar rapidamente a adulto. Parece que, afinal, não queria assim tanto. Deixem-me voltar à escola. Estou até disposto a aceitar as aulas de educação física em troca dessa viagem no tempo.
- Desejo secretamente... libertar-me do sotaque lisboeta que adquiri nos últimos oito anos. Já digo coisas como “menistro”, “vermâlho” e “Lesboa” e — a sério — até já chamei “ténis” a um par de sapatilhas. Temo que se possa tornar definitivo.
- Tenho saudades... do tempo em que não tinha um smartphone nem contas em redes sociais — e não sentia falta de um nem de outro. E das farturas do Penim.
- O medo que tive... quando, em março, fui mandado para casa e percebi que a pandemia, afinal, não era uma coisa lá longe. Claro que a perceção que temos agora da doença mudou muito — à medida que o nosso conhecimento sobre ela aumentou —, mas não esqueço aquele medo do desconhecido.
- Sinto vergonha alheia... de metade do que vejo nas redes sociais. Por um motivo simples: a vergonha dos devaneios infantis faz parte do crescimento de cada um (se a minha parvoíce de criança tivesse ficado registada na internet...), mas há uma nova geração a quem as redes sociais estão a negar o direito a esquecer, no futuro, essa parvoíce — e isso é muito preocupante. Admito que só dentro de uma década possamos avaliar o impacto das redes sociais no desenvolvimento humano, mas é possível que seja tarde para muitos.
- O futuro... é um lugar estranho. Na pior das hipóteses, em algumas décadas teremos destruído as condições de que dependíamos para vivermos neste planeta. Na melhor das hipóteses, viveremos mais um pouco e capitularemos perante os robôs e a inteligência artificial. Bela resposta para lhe animar a quinta-feira, não é?
- Se eu encontrar... quem me consiga provar, por A+B, que a designação “palmier recheado” faz mais sentido do que a — mais que óbvia — designação “jangada”, prometo pagar-lhe uma jangada e um Sumol de ananás numa confeitaria à escolha. (Mas, a bem dizer, ficam bem servidos é com os pastéis de nata da pastelaria Costa.)
- Prometo... não deixar de acreditar que para o ano é que é: o Sporting vai ser campeão.
- Tenho orgulho... quando me perguntam: “Tu és o neto do Adelino do café, não és?” Sou, pois! Ou, em alternativa, quando conto a quem não conheceu o meu avô que foi ele quem tirou a primeira cerveja à pressão alguma vez consumida na Vieira. Foi, pois.