Sociedade
Politécnico de Leiria apresenta estratégias para diminuir abandono escolar entre os caloiros em 1,63% em dois anos
Observatório para o Sucesso Académico 2.0 vai disponibilizar mentores e tutores a quem entra pela primeira vez no ensino superior
O Politécnico de Leiria apresentou hoje estratégias para diminuir o abandono escolar entre os caloiros em 1,63%, nos próximos dois anos.
O Observatório para o Sucesso Académico (OPSA) 2.0, que dá continuidade à primeira edição, assenta em sete eixos estratégicos, sendo que dois deles passam por programas de mentoria interpares e de tutoria de docentes junto dos estudantes.
Graça Poças Santos, vice-presidente do Politécnico de Leiria e coordenadora institucional do OPSA, esclarece que o objectivo principal é possibilitar aos alunos que entram na instituição pela primeira vez serem “acompanhados por pares", ou seja, por "estudantes de anos mais avançados, que vão ajudar à sua integração”.
Segundo a responsável, a instituição tem vindo a notar que, cada vez mais, os alunos têm “dificuldades em se integrar, em comunicarem e em se reunirem em grupo”.
A mentoria permitirá ajudar os novos alunos “em coisas tão simples como os serviços académicos, para que é que servem, como é que eles podem tratar de um qualquer assunto”.
Os estudantes que se disponibilizarem para serem mentores terão formação pedagógica e serão recompensados com uma bolsa.
Também os docentes que assumirem as tutorias terão formação pedagógica e ajudarão os alunos a "gerir, por exemplo, o calendário de testes e dos trabalhos”.
“Não é para serem explicadores dos alunos. Temos programas de formação específicos para as áreas que tiverem dificuldades, mas poderão ajudar a acompanhá-los num trabalho”, esclareceu Graça Poças Santos, ao acrescentar que podem orientar os estudantes a encontrar alguma da informação que está disponível no site da instituição.
O OPSA 2.0 prevê ainda a criação de redes de colaboração com entidades sociais, culturais e desportivas para promover a plena inclusão dos estudantes, uma plataforma para o sucesso académico e um programa de coordenação, comunicação, interacção e disseminação dos resultados obtidos.
Susana Monteiro revelou que em 2020/2021 (ano de comparação) a taxa de renovação dos estudantes inscritos no 1.º ano foi de 84%, o que indica um abandono de 16%.
A meta pretendida nos próximos dois anos de implementação do OPSA 2.0 é atingir uma renovação de matrícula na ordem dos 85,63%, fazendo cair a taxa média de abandono escolar para os 14,37%, revelou uma das professoras coordenadoras do OPSA.
Com uma taxa de abandono de 12,9%, no último ano lectivo 2022/2023, Graça Poças Santos afirmou que o abandono, sobretudo nos cursos Técnicos Superiores Profissionais, tem vindo a subir.
"Não é só por razões financeiras, é mesmo problemas de integração na cidade. Eles vêm para um sítio novo. Têm de tratar de tudo, da sua alimentação, do quarto... Hoje, os estudantes têm muita dificuldade em fazer este tipo de abordagens”, constata.
Admitindo que os alunos de hoje são mais imaturos, a vice-presidente confessa que também “há uma maior democratização do ensino”.
“Chegam pessoas muito diversas, cada vez mais heterogéneas, com necessidades específicas, com problemas em termos de saúde mental que antigamente não chegavam, e por isso temos de ir respondendo como instituição a esses novos públicos."
Carlos Rabadão explicou que o projecto resulta de uma candidatura ao Plano de Recuperação e Resiliência e tem uma dotação de 645 mil euros para os próximos dois anos. “A nossa preocupação não são só os alunos de 1.º ano, primeira vez, todos os estudantes, para que eles não abandonem”, aponta
O presidente do Politécnico de Leiria avança ainda que não se deve olhar para o OPSA como “mais um projecto mas como um instrumento e uma ferramenta” ao dispor “para integrar a estratégia da instituição para mitigar o abandono”.
O programa prevê adoptar “práticas pedagógicas inovadoras” e “fortalecer práticas de autoaprendizagem e de trabalho colaborativo”.
Para os alunos terem o acompanhamento que o OPSA disponibiliza terão de se inscrever numa plataforma, que depois os irá encaminhar para um mentor ou tutoria.
Projecto OPSA 2023
O Observatório Para o Sucesso Académico foi desenvolvido e implementado em 2023 com o objectivo de caracterizar e monitorizar o (in)sucesso académico e abandono escolar.
Para auxiliar nesse processo foi desenvolvida uma plataforma informática que permite identificar precocemente os potenciais casos de insucesso e de abandono escolar, para se poder agir de forma atempada e continuada com o intuito de mitigar essas situações.
Através da plataforma é possível efectuar a monitorização da actividade académica dos estudantes durante os semestres, nomeadamente o acompanhamento das actividades letivas e dos resultados obtidos.
Foi também desenvolvido um sistema automático de alertas para casos críticos e para notificação da atribuição de estatutos especiais aos estudantes.
Foi feita a realização de 63 horas de capacitação ao nível das competências socio-emocionais e do método Ubuntu, como estratégia de promoção do sucesso académico, dirigida a docentes, técnicos e serviços pedagógicos e de apoio administrativo, bem como estudantes de níveis mais avançados de formação.
Também para os estudantes com necessidades educativas específicas, em situação de vulnerabilidade, foi consolidada a figura do gestor de caso.
De forma de criar e potenciar um trabalho colaborativo a partir da identificação e utilização de uma metodologia integrada de promoção do sucesso escolar, foi desenvolvido o Laboratório de Mudança.